São Paulo, domingo, 19 de julho de 1998

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DROGAS
Área não tem polícia técnica
Só 26 das 68 cidades têm delegados
Rogério Assis / Folha Imagem
Plantação de maconha no sertão pernambucano


da Sucursal de Brasília

O despreparo do aparelho policial e do Judiciário contribuem para a impunidade na região do polígono da maconha, no sertão do Estado de Pernambuco.
Segundo o relatório da Subsecretaria de Inteligência,das 68 delegacias em municípios do sertão pernambucano, 42 não têm delegado. Há mais de 2.000 mandados de prisão por cumprir e não há polícia técnica, o que dificulta a execução de laudos periciais.
O polígono é formado principalmente pela área de 16 municípios (veja quadro nesta página). A violência na região, que engloba cerca de 1,3 milhão de habitantes, é monopolizada por organizações como o Comando Caipira, uma facção do Comando Vermelho carioca. O governo federal considera tímida a reação do governo de Pernambuco ao cultivo da maconha.
O governador pernambucano Miguel Arraes (PSB), candidato à reeleição, estaria agravando o problema social na área por não ter demonstrado vontade de realmente aplicar medidas corretivas, e não paliativas, na visão do governo federal. O sertão é o principal reduto eleitoral de Arraes.
Contra o governador estaria o fato de a segurança pública, a saúde e a educação serem deficientes na área e de ele não dotar os municípios da região com infra-estrutura suficiente que permita o desenvolvimento econômico longe do tráfico. Além da falta de incentivo à cultura outros produtos.
"Não concordamos com essa análise", declara Sérgio Rezende, secretário de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco, reagindo às críticas. "Para nós, a droga é desestruturadora da região. Sabemos que a maioria da população não se conforma em viver na clandestinidade e estaria disposta a ter rentabilidade menor, trocando a maconha por outras culturas, se elas tivessem preços e condições de venda -que são problemas federais."
Segundo ele, o Estado está incentivando a retomada do plantio de outras culturas. Quanto a segurança, ele cita o exemplo da compra de mil carros de polícia.
Na página 4/19 do relatório da subsecretaria, os investigadores citam o exemplo da "casa visitada na agrovila nš 22" do projeto Caraíbas, no município de Santa Maria de Boa Vista (PE). "A casa tinha televisão, vídeo, som tipo "system' e móveis adequados, apesar de o seu proprietário estar sobrevivendo no local, juntamente com seus dez filhos, há mais de dez anos, apenas com a VMT (Verba de Manutenção Temporária), segundo informou."
A VMT paga apenas R$ 226, mas "alguns moradores dessa agrovila possuem um padrão de vida incompatível com suas posses". O relatório revela o segredo desse padrão de vida: "Cerca de 40 mil pés de maconha foram descobertos na beira do canal próximo" às agrovilas do projeto Caraíba. (WF)



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