São Paulo, sexta-feira, 19 de agosto de 2005

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LUTA DE CLASSES

Mulher havia ganho Mercedes em sorteio de mercado em 1999, mas casal alegava que notas fiscais eram suas

STJ dá a empregada carro que patrão queria

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Parecia a sorte grande, mas um cupom premiado que dava direito a um carro 0 km trouxe desemprego e um arrastado processo judicial a uma empregada doméstica do Rio de Janeiro. Seus patrões, casal morador de um dos condomínios mais luxuosos da cidade, a acusaram de ter obtido os cupons ao fazer compras para eles e reivindicaram a posse do carro.
Ontem à tarde, após seis anos de disputa judicial, Rogenas da Silva, 34, recebeu o Mercedes Classe A que ganhou em um sorteio de um supermercado do Rio em 1999.
"Após toda a humilhação que passei, vou vendê-lo o mais rápido possível e comprar minha casa", disse Rogenas, que mora de aluguel em uma favela de Jacarepaguá, zona oeste do Rio.
A humilhação a que se refere teve início no dia em que foi informada pelo supermercado de que tinha ganho a Mercedes Classe A.
"A partir daquele dia deixei de ser a empregada de confiança, que trabalhava havia cinco anos na casa, para virar criminosa. Eles jogaram todas as minhas roupas no elevador e levaram o caso para a delegacia", diz a mineira radicada no Rio há cerca de dez anos.
Na ocasião, Adelino Bulhosa e Sandra Conrado Bulhosa, patrões de Rogenas, alegaram que a empregada tinha obtido os cupons com as compras feitas para eles. Naquele ano, o casal tinha na garagem quatro carros: um Fiat Coupé, um Vectra, uma caminhonete e uma Dakota Sportage.
Rogenas dizia que havia feito também compras para a sua casa. Não convenceu os patrões.
O casal mora no Golden Green, condomínio onde tem como vizinhos o atacante Ronaldo, do Real Madrid, e o técnico da seleção, Carlos Alberto Parreira, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.
"Conseguimos fazer uma perícia e foi comprovado que os cupons da família tinham sido depositados. A Rogenas fez questão de escrever os nomes dos chefes e dos filhos deles nos recibos. A partir daí, ficou mais fácil provar a inocência dela", disse o advogado Antônio Augusto Pereira Lopes.
A empregada conseguiu vitória no Tribunal de Justiça do Estado há cerca de dois anos, mas os ex-patrões recorreram ao Superior Tribunal de Justiça. Há cerca de seis meses, o STJ manteve a decisão do tribunal fluminense. O casal não tem mais como recorrer. Os advogados dos ex-chefes de Rogenas não foram encontrados para comentar o caso.
Na época, o Mercedes Classe A valia R$ 29 mil. Atualmente, o carro, que tinha ontem apenas 18 km rodados, deve ser vendido por cerca de R$ 25 mil. "O pesadelo chegou ao final. Vou agora limpar meu nome", disse a empregada, referindo-se ao processo por danos morais contra os ex-chefes.


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