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LUTA DE CLASSES
Mulher havia ganho Mercedes em sorteio de mercado em 1999, mas casal alegava que notas fiscais eram suas
STJ dá a empregada carro que patrão queria
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Parecia a sorte grande, mas um
cupom premiado que dava direito a um carro 0 km trouxe desemprego e um arrastado processo judicial a uma empregada doméstica do Rio de Janeiro. Seus patrões,
casal morador de um dos condomínios mais luxuosos da cidade, a
acusaram de ter obtido os cupons
ao fazer compras para eles e reivindicaram a posse do carro.
Ontem à tarde, após seis anos de
disputa judicial, Rogenas da Silva,
34, recebeu o Mercedes Classe A
que ganhou em um sorteio de um
supermercado do Rio em 1999.
"Após toda a humilhação que
passei, vou vendê-lo o mais rápido possível e comprar minha casa", disse Rogenas, que mora de
aluguel em uma favela de Jacarepaguá, zona oeste do Rio.
A humilhação a que se refere teve início no dia em que foi informada pelo supermercado de que
tinha ganho a Mercedes Classe A.
"A partir daquele dia deixei de
ser a empregada de confiança,
que trabalhava havia cinco anos
na casa, para virar criminosa. Eles
jogaram todas as minhas roupas
no elevador e levaram o caso para
a delegacia", diz a mineira radicada no Rio há cerca de dez anos.
Na ocasião, Adelino Bulhosa e
Sandra Conrado Bulhosa, patrões
de Rogenas, alegaram que a empregada tinha obtido os cupons
com as compras feitas para eles.
Naquele ano, o casal tinha na garagem quatro carros: um Fiat
Coupé, um Vectra, uma caminhonete e uma Dakota Sportage.
Rogenas dizia que havia feito
também compras para a sua casa.
Não convenceu os patrões.
O casal mora no Golden Green,
condomínio onde tem como vizinhos o atacante Ronaldo, do Real
Madrid, e o técnico da seleção,
Carlos Alberto Parreira, na Barra
da Tijuca, zona oeste do Rio.
"Conseguimos fazer uma perícia e foi comprovado que os cupons da família tinham sido depositados. A Rogenas fez questão
de escrever os nomes dos chefes e
dos filhos deles nos recibos. A
partir daí, ficou mais fácil provar a
inocência dela", disse o advogado
Antônio Augusto Pereira Lopes.
A empregada conseguiu vitória
no Tribunal de Justiça do Estado
há cerca de dois anos, mas os ex-patrões recorreram ao Superior
Tribunal de Justiça. Há cerca de
seis meses, o STJ manteve a decisão do tribunal fluminense. O casal não tem mais como recorrer.
Os advogados dos ex-chefes de
Rogenas não foram encontrados
para comentar o caso.
Na época, o Mercedes Classe A
valia R$ 29 mil. Atualmente, o
carro, que tinha ontem apenas 18
km rodados, deve ser vendido por
cerca de R$ 25 mil. "O pesadelo
chegou ao final. Vou agora limpar
meu nome", disse a empregada,
referindo-se ao processo por danos morais contra os ex-chefes.
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