São Paulo, Domingo, 19 de Setembro de 1999
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CELULAR POPULAR
Após a popularização, tornou-se raro ouvir celular tocar em público em locais tidos como chiques
Elite agora prefere utilização discreta

da Reportagem Local
Uma das provas de que o serviço de telefonia celular atravessa um processo acelerado de "proletarização" e está mudando a "etiqueta" relacionada a esses aparelhinhos está na discrição adotada pelos seus primeiros usuários.
Um exemplo: Mauro Freire, dono do aristocrático salão de cabeleireiro Espaço Urbano, em São Paulo, constata que suas clientes passaram a deixar o aparelho desligado na bolsa e raramente o utilizam, como antes, em público.
Ou ainda: no Fasano, um dos mais caros restaurantes de São Paulo, tornou-se raro ouvir o toque de um celular. O gerente Almir Paiva diz que seus clientes por vezes deixam o aparelho no automóvel. Quando pedem para que os manobristas os apanhem, é apenas para verificar se há algum recado na caixa postal.
Massimo Ferrari, proprietário de outro restaurante reservado à mesma clientela, diz que tornou-se raro ouvir uma campainha de celular no ambiente. A tendência parece geral. Para não se confundir com "emergentes", os mais ricos fazem seus telefones vibrar discretamente no bolso.
É um reflexo no comportamento da segunda onda que vive a telefonia celular no Brasil. No início, com pouquíssimas exceções -cidades como Londrina (PR) e Uberlândia (MG)-, a demanda bem maior do que a oferta gerou preços relativamente altos e fez do celular um símbolo de ostentação de riqueza, como carro importado ou roupa de grife.
Os números mostram que isso está superado. Operavam no final do ano passado, no país inteiro, 7,4 milhões de aparelhos habilitados. Em julho de 1999 eles já eram 10 milhões. E em dezembro serão 14 milhões, segundo estimativa da Acel (Associação Nacional dos Prestadores de Serviço Móvel Celular). Os números basicamente triplicaram desde a privatização da telefonia, ocorrida em 1998.
Na Grande São Paulo, dos 10,7 milhões de pessoas com mais de 10 anos de idade, 2,3 milhões usam um celular regularmente -aparelho familiar ou da empresa. Entre elas, 1,2 milhão possuem um celular para uso pessoal, segundo pesquisa da Maplan.
O primeiro celular funcionou na Suécia, em 1981. Tornou-se objeto corrente nos Estados Unidos, a partir de 1983. Mas nem todos os países seguiram o modelo brasileiro de expansão da rede, iniciado pela elite de consumo e só bem depois expandido para a base da pirâmide de renda.
No Chile, por exemplo, celular foi sempre um produto barato. O mesmo ocorreu na França, onde os mais ricos repudiam o uso escancarado do que consideram "brinquedo de pobre". São os imigrantes árabes e africanos que mais o utilizam em público.
(JOÃO BATISTA NATALI)


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