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CELULAR POPULAR
Após a popularização, tornou-se raro ouvir celular tocar em público em locais tidos como chiques
Elite agora prefere utilização discreta
da Reportagem Local
Uma das provas de que o serviço de telefonia celular atravessa
um processo acelerado de "proletarização" e está mudando a "etiqueta" relacionada a esses aparelhinhos está na discrição adotada
pelos seus primeiros usuários.
Um exemplo: Mauro Freire, dono do aristocrático salão de cabeleireiro Espaço Urbano, em São
Paulo, constata que suas clientes
passaram a deixar o aparelho desligado na bolsa e raramente o utilizam, como antes, em público.
Ou ainda: no Fasano, um dos
mais caros restaurantes de São
Paulo, tornou-se raro ouvir o toque de um celular. O gerente Almir Paiva diz que seus clientes por
vezes deixam o aparelho no automóvel. Quando pedem para que
os manobristas os apanhem, é
apenas para verificar se há algum
recado na caixa postal.
Massimo Ferrari, proprietário
de outro restaurante reservado à
mesma clientela, diz que tornou-se raro ouvir uma campainha de
celular no ambiente. A tendência
parece geral. Para não se confundir com "emergentes", os mais ricos fazem seus telefones vibrar
discretamente no bolso.
É um reflexo no comportamento da segunda onda que vive a telefonia celular no Brasil. No início, com pouquíssimas exceções
-cidades como Londrina (PR) e
Uberlândia (MG)-, a demanda
bem maior do que a oferta gerou
preços relativamente altos e fez do
celular um símbolo de ostentação
de riqueza, como carro importado ou roupa de grife.
Os números mostram que isso
está superado. Operavam no final
do ano passado, no país inteiro,
7,4 milhões de aparelhos habilitados. Em julho de 1999 eles já eram
10 milhões. E em dezembro serão
14 milhões, segundo estimativa da
Acel (Associação Nacional dos
Prestadores de Serviço Móvel Celular). Os números basicamente
triplicaram desde a privatização
da telefonia, ocorrida em 1998.
Na Grande São Paulo, dos 10,7
milhões de pessoas com mais de
10 anos de idade, 2,3 milhões
usam um celular regularmente
-aparelho familiar ou da empresa. Entre elas, 1,2 milhão possuem
um celular para uso pessoal, segundo pesquisa da Maplan.
O primeiro celular funcionou
na Suécia, em 1981. Tornou-se objeto corrente nos Estados Unidos,
a partir de 1983. Mas nem todos os
países seguiram o modelo brasileiro de expansão da rede, iniciado pela elite de consumo e só bem
depois expandido para a base da
pirâmide de renda.
No Chile, por exemplo, celular
foi sempre um produto barato. O
mesmo ocorreu na França, onde
os mais ricos repudiam o uso escancarado do que consideram
"brinquedo de pobre". São os
imigrantes árabes e africanos que
mais o utilizam em público.
(JOÃO BATISTA NATALI)
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