São Paulo, Domingo, 19 de Setembro de 1999
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PATRIMÔNIO
Clube XV, o mais antigo do Brasil, deve ser demolido
Marco da arquitetura santista deve dar lugar a arranha-céu

FAUSTO SIQUEIRA
da Agência Folha, em Santos

Um dos últimos exemplares da arquitetura moderna brasileira no litoral de SP está prestes a ser demolido e substituído por duas torres de 23 andares que formarão o mais alto edifício da região.
O Clube XV, 130 anos, mais antigo clube social do Brasil, trocou o terreno que ocupa na orla da praia do Boqueirão, em Santos, por dois pavimentos no complexo a ser erguido no local pelas empresas Monpar Construtora e Villela & Martins Empreendimentos, que investirão R$ 18 milhões.
O projeto prevê a instalação de 238 flats, 102 conjuntos comerciais e 12 lojas.
Os cinco primeiros andares formarão um único bloco. A nova sede do XV ocupará o quarto e o quinto, a partir do qual se erguerão duas torres separadas.
O projeto do clube, dos arquitetos Francisco Petracco e Paulo Saraiva, foi premiado na 10ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, em 1969.
Embora o Condepasa (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos) tenha rejeitado uma proposta de tombamento e aprovado o pedido de demolição feito pelo clube, as obras poderão enfrentar dois obstáculos.
Um deles é uma avaliação do Ministério Público, a pedido do Diretório Acadêmico da Faculdade de Arquitetura da Unisantos.
O promotor Daury de Paula Júnior quer apurar qual é o verdadeiro valor cultural e arquitetônico do prédio e o impacto urbano que o novo edifício vai causar no ambiente da orla.
O outro eventual obstáculo é o pedido de tombamento formulado pelo mesmo diretório acadêmico ao Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo).
O diretor do serviço técnico do Condephaat, José Guilherme Savoy de Castro, disse que está produzindo um parecer que será enviado aos conselheiros, responsáveis por decidir pela abertura de um processo de tombamento.
O assunto divide os arquitetos. "O conselho santista tem uma lista de bens que ainda não estão tombados de interesse do município e esse prédio não consta dela. Na análise da representatividade do edifício, os conselheiros entenderam que ele não deveria ser preservado", disse Bechara Abdala, 39, presidente do Condepasa.
O órgão aprovou a demolição por nove votos pró, dois contra e uma abstenção. Um dos votos contrários foi o de Fábio Serrano, ex-diretor da Faculdade de Arquitetura e representante da Unisantos no Condepasa. "O projeto é representativo de uma fase importante da arquitetura de São Paulo, a brutalista. O prédio se destaca da paisagem por sua monumentalidade", declarou.


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