São Paulo, Domingo, 19 de Setembro de 1999
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CELULAR POPULAR
Garota em Pindamonhangaba, no interior de SP, controla o namorado que mora na capital
Aparelho é "coleira" de filho e namorado

da Reportagem Local

Poucos jovens exibiriam o celular com tanto orgulho como Anderson Cassemiro da Cruz, 17. Ele recebeu o aparelho de presente da namorada. Ela mora em Pindamonhangaba, interior de São Paulo. E ele, em Itaquera, zona leste paulistana.
Ela consegue controlar o cotidiano dele com essa espécie de cordinha eletrônica -comparação que Anderson, obviamente, rejeita com toda a convicção.
De qualquer modo, há um mês eles se falam com uma frequência incomparavelmente maior que nos tempos de orelhão. O celular também serve para que a mãe dele controle suas andanças.
Quem também é submetido a um certo controle pela família é Josias Valério da Silva Júnior, 19. Nos feriados, ele viajou com amigos para a Praia Grande, no litoral sul paulista. Não conseguiu avisar a tempo a avó, que é enfermeira e cumpre horários atípicos em seus plantões. Mas ela conseguiu encontrá-lo pelo telefone, depois de estranhar que ele não havia comparecido para o jantar.
Na faixa de usuários mais jovens há também Wallace Augusto Simplício da Silva, 22. Técnico em eletrônica, ele conserta aparelhos auditivos. Diz que, sem seu aparelho, comprado há um ano, não teria a metade dos clientes que hoje consegue atender.
Entre os adolescentes, o uso do celular tem significados que variam de grupo para grupo -por vezes, de usuário para usuário.
Célia Tilkian, diretora do curso médio (antigo segundo grau) da Escola Nova Lourenço Castanho, frequentada pela classe média alta, diz que os poucos alunos da oitava série que o possuem sentem-se mais poderosos pela autonomia que o aparelho pode lhes dar.

Lado didático
Mas existe também o lado didático do celular. Os pais que dão ao filho um aparelho pré-pago -que tem limite determinado de créditos, comprados em cartão- têm à disposição um novo instrumento para ensinar a gestão do dinheiro e a importância em utilizá-lo apenas nos momentos realmente essenciais.
É essa também a impressão dos profissionais que atuam nas operadoras. Eles acreditam, sem que haja por enquanto qualquer estudo específico, que o adolescente fica bem mais à vontade ao utilizar um pré-pago do que um celular normal.
Isso porque a fatura mensal pode revelar detalhes sobre períodos de maior utilização e eventuais interurbanos feitos por meio do aparelho. Para o jovem, é uma questão de manter a privacidade.
O pré-pago tem custo de ligação muito mais caro que o celular normal, mas evita que o usuário tenha a surpresa de receber contas acima do esperado. (JBN)


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