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DANUZA LEÃO
O pesadelo feminino
Pergunte a qualquer mulher que não costuma mentir
-e vai ser difícil encontrar
uma- qual a pior coisa que pode
acontecer no decorrer de uma vida. Se for sincera, vai confessar:
ele não telefonar no dia seguinte.
Ele, seja ele quem for.
Não importa o que aconteceu
na noite anterior: se foram ao cinema, a uma festa, ao parque de
diversões. Mesmo que ela não tenha achado a menor graça, que
não pretenda vê-lo nunca mais,
basta que ele não ligue para ela se
sentir a última das mulheres.
Se ela violou a regra de ouro
que diz que não se deve ir para a
cama com um homem no primeiro encontro, foi por isso, é claro
(ela acha). Por que não seguiu os
ensinamentos que conhece tão
bem e que já cansou de repetir às
amigas: homem é caçador por natureza, homem não gosta de mulher fácil, é preciso jogar o jogo e
se fazer de difícil, é preciso primeiro estabelecer uma relação e só
depois transar, essas coisas elementares que se aprende em
criança no colégio de freiras. Enquanto reflete sobre as famosas
teorias, não consegue fazer nada,
esperando que o telefone toque.
Não, não é o caso de ficar ansiosa. Ele não ligou ainda porque nenhum liga de manhã, é claro; depois foi trabalhar, teve o trânsito
da volta, só chegou em casa às 8h,
então não tem por que se afobar.
Mas mulher se afoba, porque mulher nasce com essa sina: estar
sempre esperando o telefonema
de um homem, estando ou não
apaixonada, para poder sofrer
bastante e ficar bem afobada. É
sina mesmo.
Às 9h ele ainda não ligou, e ela
pensa: será que deu o telefone certo? Será que, entre uma margherita e outra, o dedo não escorregou e o oito ficou parecendo um
três, ou vice-versa? Ah, essa mania de beber para perder a timidez, quando é que vai aprender?
São 10h e ele não ligou ainda; não
vai ligar nunca mais, é claro. Mas
se por acaso acontecer do telefone
tocar, não vai atender, para que
ele não pense que é uma jogada
fora e que não teve programa naquela noite.
Às 10h30 ouve o triiiim; se esforça mas não resiste, nem deixa a
secretária atender, diz alô no segundo toque, antes que ele desista
pensando que ela não está. Só que
era uma amiga, apenas uma
amiga, que ligou só para perguntar se ele ligou. Ainda mais essa.
Difícil, a vida. Ela devia ter ido
a um cinema para não ficar nessa
agonia, mas se tivesse ido ia largar o filme no meio e voltar pra
casa correndo para ver se tinha
recado na máquina. Sabe perfeitamente o que deveria ter feito: se
tivesse sido mais difícil, ele estaria
hoje de quatro, comendo na mão
dela; os homens são todos iguais.
O pior é que as mulheres também. Para se acharem lindas, bacanas, sedutoras e maravilhosas,
precisam do aval de um homem,
seja ele quem for. Não adianta ser
a mais deslumbrante atriz de cinema, a mais competente profissional, não adianta o que dizem
os amigos, os analistas, nada significa nada se ele não tiver ligado
no dia seguinte.
Eles não sabem que esse telefonema do dia seguinte é mais importante para elas do que todas as
descobertas científicas, todas as
guerras, mais importante do que
a paz universal.
E é melhor que continuem não
sabendo.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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