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TECNOLOGIA DE ELITE
Menos de 3% dos deficientes físicos brasileiros têm acesso a equipamentos que substituem membros perdidos
Modernas, próteses no país são para poucos
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Olhos artificiais com lágrimas,
brilho e movimento do olhar. Pernas e braços mecânicos recobertos de silicone com cor e textura
de pele, poros, veias e pêlos. Mãos
com sensores que regulam a força
de preensão automaticamente,
joelho controlado por microprocessador que se autoprograma
para executar as atividades.
O Brasil dispõe hoje do que há
de mais moderno no mundo na
área de próteses, equipamentos
que substituem do ponto de vista
estético e funcional o membro
perdido em acidentes ou doenças.
Produtos de última geração, como o joelho hidráulico (de US$ 15
mil a US$ 19 mil) e a mão com
sensores (R$ 28 mil a R$ 72 mil),
recentemente lançados em congresso internacional na Alemanha, já estão disponíveis no país e
conseguem devolver ao deficiente
movimentos muito próximos do
natural. Pena que para poucos.
Menos de 3% dos deficientes físicos brasileiros conseguem ter
acesso a essa alta tecnologia, segundo a Abotec (Associação Brasileira de Ortopedia Técnica).
Pelo censo de 2000, no Brasil,
são 24,5 milhões de pessoas portadoras de deficiência, ou 14,5%
da população. Desse total, 26%
têm deficiência física ou motora
-6% possuem falta de um ou
mais membros- e 48% apresentam problemas para enxergar.
As dificuldades dessa população não se resumem à falta de
acesso à alta tecnologia. Pesquisa
desenvolvida pela Fundação Banco do Brasil e Fundação Getúlio
Vargas mostra que apenas 5% dos
deficientes brasileiros têm acesso
aos serviços de reabilitação.
A maioria, cerca de 70% na estimativa de especialistas, permanece ou é mantida em casa. Quando
chegam aos serviços, enfrentam
filas de espera para o tratamento e
para conseguir a prótese.
Na AACD, por exemplo, deficientes físicos chegam a esperar
de quatro meses a um ano para
conseguir uma simples cadeira de
rodas, que custa em média R$
400. "Muitas vezes o paciente passa por todas as terapias necessárias para a reabilitação e o tratamento acaba emperrando por falta de órteses e próteses", afirma o
ortopedista Antonio Carlos Fernandes, diretor clínico da AACD.
No Lesf (Lar e Escola São Francisco), ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), cerca
de 200 pessoas aguardam por
uma prótese ou órtese.
A assessoria de imprensa do Ministério da Saúde informa que
neste ano a pasta repassou R$
118,56 milhões aos Estados e municípios destinados à aquisição de
órteses e próteses. Não há estimativa do número de pessoas beneficiadas e nem de quantas ainda
aguardam em filas de espera.
No aspecto estética versus funcionalidade das próteses, há diferenças de acordo com idade e sexo do paciente, segundo a fisiatra
Therezinha Rosane Chamlian, diretora técnica do Lesf. "Mulheres
e idosos preferem a estética. As
mulheres pintam as unhas das
próteses, usam saltinho. Os jovens querem funcionalidade."
Mario Cesar Carvalho, da Abotec, diz que a outra grande novidade para os amputados é o sistema à vácuo que impede o deslocamento que havia entre o coto e a
prótese, que dá mais segurança e
conforto ao deficiente.
Na área de prótese ocular, uma
novidade está na reconstrução do
globo ocular. Segundo o cirurgião
André Borba, da USP de São Paulo, hoje é possível usar um gel que
permite ao olho artificial um grau
de volume e movimento muito
próximo ao natural. "Passou a era
do olho de vidro."
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