São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2004

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TECNOLOGIA DE ELITE

Menos de 3% dos deficientes físicos brasileiros têm acesso a equipamentos que substituem membros perdidos

Modernas, próteses no país são para poucos

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Olhos artificiais com lágrimas, brilho e movimento do olhar. Pernas e braços mecânicos recobertos de silicone com cor e textura de pele, poros, veias e pêlos. Mãos com sensores que regulam a força de preensão automaticamente, joelho controlado por microprocessador que se autoprograma para executar as atividades.
O Brasil dispõe hoje do que há de mais moderno no mundo na área de próteses, equipamentos que substituem do ponto de vista estético e funcional o membro perdido em acidentes ou doenças.
Produtos de última geração, como o joelho hidráulico (de US$ 15 mil a US$ 19 mil) e a mão com sensores (R$ 28 mil a R$ 72 mil), recentemente lançados em congresso internacional na Alemanha, já estão disponíveis no país e conseguem devolver ao deficiente movimentos muito próximos do natural. Pena que para poucos.
Menos de 3% dos deficientes físicos brasileiros conseguem ter acesso a essa alta tecnologia, segundo a Abotec (Associação Brasileira de Ortopedia Técnica).
Pelo censo de 2000, no Brasil, são 24,5 milhões de pessoas portadoras de deficiência, ou 14,5% da população. Desse total, 26% têm deficiência física ou motora -6% possuem falta de um ou mais membros- e 48% apresentam problemas para enxergar.
As dificuldades dessa população não se resumem à falta de acesso à alta tecnologia. Pesquisa desenvolvida pela Fundação Banco do Brasil e Fundação Getúlio Vargas mostra que apenas 5% dos deficientes brasileiros têm acesso aos serviços de reabilitação.
A maioria, cerca de 70% na estimativa de especialistas, permanece ou é mantida em casa. Quando chegam aos serviços, enfrentam filas de espera para o tratamento e para conseguir a prótese.
Na AACD, por exemplo, deficientes físicos chegam a esperar de quatro meses a um ano para conseguir uma simples cadeira de rodas, que custa em média R$ 400. "Muitas vezes o paciente passa por todas as terapias necessárias para a reabilitação e o tratamento acaba emperrando por falta de órteses e próteses", afirma o ortopedista Antonio Carlos Fernandes, diretor clínico da AACD.
No Lesf (Lar e Escola São Francisco), ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), cerca de 200 pessoas aguardam por uma prótese ou órtese.
A assessoria de imprensa do Ministério da Saúde informa que neste ano a pasta repassou R$ 118,56 milhões aos Estados e municípios destinados à aquisição de órteses e próteses. Não há estimativa do número de pessoas beneficiadas e nem de quantas ainda aguardam em filas de espera.
No aspecto estética versus funcionalidade das próteses, há diferenças de acordo com idade e sexo do paciente, segundo a fisiatra Therezinha Rosane Chamlian, diretora técnica do Lesf. "Mulheres e idosos preferem a estética. As mulheres pintam as unhas das próteses, usam saltinho. Os jovens querem funcionalidade."
Mario Cesar Carvalho, da Abotec, diz que a outra grande novidade para os amputados é o sistema à vácuo que impede o deslocamento que havia entre o coto e a prótese, que dá mais segurança e conforto ao deficiente.
Na área de prótese ocular, uma novidade está na reconstrução do globo ocular. Segundo o cirurgião André Borba, da USP de São Paulo, hoje é possível usar um gel que permite ao olho artificial um grau de volume e movimento muito próximo ao natural. "Passou a era do olho de vidro."


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