São Paulo, Terça-feira, 19 de Outubro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TORTURA

Ministério Público paulista anuncia grupo para investigar denúncias e aumentar controle sobre polícia

Promotoria vai apurar violência policial

LILIAN CHRISTOFOLETTI
da Reportagem Local


O Ministério Público de São Paulo anunciou ontem a criação de um serviço especial para apurar denúncias de tortura e de violência cometidas por policiais civis e militares em todo Estado.
O anúncio foi feito após publicação, ontem, na Folha, de depoimento de policial militar paulista que afirma ter assassinado e dificultado o socorro de pessoas suspeitas de ser criminosas. Na mesma reportagem, investigador da Polícia Civil do Pará relatou sessões de tortura de presos.
"É uma barbárie um policial matar ou torturar alguém. Desafiando a Constituição, ele simplesmente decide quem deve morrer, sem conhecer os antecedentes da vítima", afirmou o assessor especial de Direitos Humanos, Carlos Cardoso.
Segundo ele, a criação do serviço é uma determinação do procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Luiz Antônio Marrey. A nova divisão deve começar a funcionar em um mês.
"Queremos criar um serviço de qualidade para combater abusos policiais", afirmou Cardoso.
O serviço especial do Ministério Público, segundo ele, vai colher depoimentos de vítimas ou parentes por telefone, pessoalmente ou por meio de ONGs (organizações não-governamentais).
"Queremos montar uma estrutura em que as denúncias sejam imediatamente repassadas para promotores especializados", afirmou Cardoso.

Máscara e arma fria
Além da criação do novo serviço, o Ministério Público vai enviar uma carta ao secretário da Segurança Pública, Marco Vinicio Petrelluzzi, pedindo a proibição do uso de máscara e de arma fria (sem registro) por policiais durante operações.
O uso de máscaras foi relatado por presos do 26º DP (Sacomã), que disseram ter sido agredidos por policiais mascarados do GOE (Grupo de Operações Especiais). As agressões foram gravadas em uma fita cassete.
A arma fria, por sua vez, é utilizada por policiais para matar suspeitos sem que seja possível identificar o dono dela, segundo relato do PM publicado.
Para Cardoso, a atual onda de denúncias demostra a necessidade de a polícia ser fiscalizada por um órgão externo. "Não tem sentido a polícia fiscalizar a própria polícia", disse, referindo-se à atuação das corregedorias.
O secretário da Segurança, Marco Vinicio Petrelluzzi, foi procurado ontem, mas sua assessoria informou que ele estava com a agenda lotada e não poderia falar sobre o assunto.




Texto Anterior: 4 escapam de delegacia da infância em SP
Próximo Texto: Justiça: Tortura não pode ficar impune, diz ministro
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.