São Paulo, terça-feira, 19 de outubro de 2004

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RIO LÁ FORA

Editor comenta reportagem

"Tocamos em nervo exposto", diz britânico

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Não temos interesse em prejudicar a imagem de cidade nenhuma, mas muitos leitores da reportagem do "The Independent" não deverão programar viagens ao Rio, assim como não planejam fazer turismo no Sudão ou na Tchetchência." Para o jornalista britânico Richard Powell, dono da agência de notícias inglesa "Presswire", essa deve ser a conseqüência do texto para os leitores ingleses do jornal britânico.
A "Presswire" produziu a reportagem "A cidade da cocaína e da carnificina" sobre o crime organizado no Rio de Janeiro, publicada na semana passada pelo "The Independent".
O texto incitou reações de intelectuais, órgãos fluminenses de segurança pública, mídia e da governadora do Estado do Rio, Rosinha Matheus (PMDB), que enviou carta ao embaixador do Reino Unido no Brasil, Peter Collecott, em protesto contra o texto.
"É interessante e embaraçosa a repercussão da reportagem no Brasil. Obviamente, tocamos em um nervo exposto dos brasileiros", disse Leonard Doyle, editor da notícias internacionais do "The Independent". "Às vezes é preciso que um jornal estrangeiro toque em determinado assunto para gerar uma reação que não acontece no dia-a-dia."
As críticas à reportagem foram sobretudo destinadas à comparação da situação vivida pelos cariocas com aquela de países em guerra civil como o Sudão e a república separatista Tchetchênia.
Powell explica que foi preciso fazer a comparação para que ingleses que nunca estiveram no Brasil compreendessem a situação da qual a reportagem tratava. "O repórter Tom Phillips nos contou que a polícia e até o Exército tomam partes da cidade e que helicópteros sobrevoam os morros. Essa é uma situação de prevenção da violência que nos parece similar aos métodos empregados em zonas de conflito", afirma.
"Rio: Drugs boss murder threatens return to chaos" (algo como "Rio: Assassinato de chefe das drogas ameaça retorno ao caos") foi o título dado à reportagem da "Presswire" -transformado em "A cidade da cocaína e da carnificina" pelas mãos de Doyle.
"Nós tínhamos a história, mas o jornal não é obrigado a publicá-la na íntegra nem dar a ela o mesmo título da original", diz Powell.
Sobre a alteração do título Powell afirmou preferir "não comentar os efeitos nem as motivações dessa mudança".


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