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SOCIEDADE INVOLUNTÁRIA
Ruas Vaz, grupo com maior frota de ônibus de SP, usou "laranjas" para se livrar de dívidas
Juíza penhora bens de barão do transporte
GILMAR PENTEADO
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Justiça Federal determinou a
penhora dos bens do maior empresário de ônibus de São Paulo,
José Ruas Vaz, e de seus sócios para pagar uma dívida previdenciária de R$ 1,79 milhão acumulada
pela Auto Viação Tabu Ltda, que
operou na cidade de 1985 a 1996.
O grupo Ruas Vaz, que controla
hoje 55% da frota de ônibus paulistana, retirou-se oficialmente da
empresa em dezembro de 1996,
mas a juíza Luciane Aparecida
Fernandes Ramos, da 4ª Vara Federal, considerou que ele cometeu
uma "fraude" ao repassá-la a "laranjas", na tentativa de se livrar
dos débitos -devendo, portanto,
ser responsável por eles.
O esquema aplicado na Tabu foi
revelado ontem pela Folha, que
localizou três dos quatro homens
para quem a viação foi repassada
a partir de 1996. Os sapateiros José
Simões e Gilson Nascimento de
Oliveira e o vigilante e ex-cobrador Gerson Antonio de Lucena
afirmam que tiveram seus nomes
usados sem eles saberem. Apesar
de não terem rendimentos nem
sequer para declarar Imposto de
Renda, os três chegaram a ser responsabilizados por dívidas fiscais,
trabalhistas, por acidentes de
trânsito, multas por dano ao meio
ambiente e pela derrubada de
postes de luz por ônibus da Tabu.
Os mandados de penhora da
juíza federal começaram a ser expedidos no último dia 1º. Eles
atingem diretamente empresas
que até hoje prestam serviços à
Prefeitura de São Paulo, como as
viações Campo Belo, Via Sul, Cidade Dutra e Itaim Paulista -todas do grupo Ruas Vaz-, que
permaneceram no sistema após a
licitação concluída pela administração Marta Suplicy, em 2003, e
atuam nas zonas leste e sul.
A juíza também determinou à
SPTrans (empresa municipal que
cuida do transporte) que retenha
30% dos créditos dessas empresas
para garantir a cobertura das dívidas da Tabu com a Previdência.
Essas decisões se referem a somente uma das ações de cobrança
do INSS (Instituto Nacional do
Seguro Social) contra a viação, em
valores que atingem hoje R$ 1,79
milhão. O órgão diz, porém, que
os débitos previdenciários da Tabu chegam ao total de R$ 36,8 milhões. As dívidas do grupo Ruas
Vaz com o INSS, somente em nove das mais de 20 empresas, ultrapassam R$ 500 milhões.
Os oficiais de Justiça devem ir,
em até 30 dias, aos endereços comerciais e residenciais dos sócios
do grupo, avaliar e penhorar os
bens localizados e conceder prazo
de mais um mês para recursos.
O argumento do instituto para
pedir a responsabilização das demais empresas do grupo Ruas
Vaz se baseou na lei federal de
custeio, que institui solidariedade
nas dívidas previdenciárias relativas ao mesmo grupo econômico.
Na decisão, a juíza disse, no caso
da Tabu, que "os sócios (...) consubstanciam-se em laranjas, ou
seja, terceiros colocados na sociedade de maneira figurativa com o
objetivo de os reais controladores
da empresa furtarem-se de suas
responsabilidades fiscais".
A decisão da Justiça se deu após
as tentativas frustradas dos oficiais de Justiça, desde 1998, de tomar os bens da própria viação Tabu como garantia de pagamento
das dívidas com o INSS. A ação do
órgão, inicialmente, tentava responsabilizar José Simões e Gilson
Nascimento de Oliveira. Os dois
sapateiros foram retirados do
processo em 2001, após constatação de que eram "laranjas" involuntários usados por Ruas Vaz.
Os oficiais de Justiça tentaram,
sem sucesso, localizar Simões e
Oliveira no Rio de Janeiro e em
São Paulo, seguindo endereços
que constavam nas juntas comerciais dos dois Estados.
Em outubro de 2000, ao verificar que parte do patrimônio da
Tabu havia sido passado para a
viação Vitória, que operou na capital paulista até janeiro de 2002,
houve um pedido do INSS para
que as buscas a incluíssem.
O pedido foi aceito pela Justiça,
mas o INSS não pôde comemorar. Além de não localizar os bens,
a solicitação para que a SPTrans
retivesse 30% dos créditos da Vitória saiu tarde demais. Em outubro de 2002, a empresa municipal
informou que não tinha nada
mais a pagar à viação. A Vitória
entrou em processo de falência.
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