São Paulo, terça-feira, 19 de outubro de 2004

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RÉU FANTASMA

Ausência de donos de viação emperra ação

Vítima de acidente espera indenização

DA REPORTAGEM LOCAL

O auxiliar de escritório Adelino Abrantes Borges Filho olhou para o espelho e, só então, percebeu os hematomas pelo rosto e uma grande cicatriz no lado direito da cabeça. Fazia quase seis meses do acidente e somente naquele momento ele começava a perceber o que tinha acontecido.
Borges Filho caiu, em 1986, de um ônibus da Auto Viação Tabu Ltda que trafegava com a porta aberta e em alta velocidade. Teve traumatismo craniano e houve formação de coágulo no cérebro. Quando saiu do hospital, apresentava seqüelas neurológicas.
Hoje com 49 anos, ele ainda toma remédios anticonvulsivos. "Eu agia como uma criança. A memória foi voltando aos poucos. Só a partir daí [ao perceber os hematomas pelo espelho] comecei a cair na real", diz.
O motorista do ônibus já foi condenado por lesão corporal. Mas Borges Filho ainda não conseguiu responsabilizar civilmente a empresa de ônibus. A ação por danos morais que move contra a Tabu desde 2002 -a família de Borges Filho só concordou com a ação depois de ele se recuperar- emperra na dificuldade de se conhecerem os verdadeiros donos.
O vigilante Gerson Antonio de Lucena, "laranja" que teve seu nome usado pelos donos da Tabu, foi citado pela Justiça nessa ação. "Não há como não se comover com a história dele", afirma Lucena.
Foi o endereço do vigilante, no extremo leste de São Paulo, que provocou a desconfiança do advogado de Borges Filho, Fúlvio de Mena Rebouças. "Um empresário com esse endereço? Só podia ser laranja."
A dúvida em relação aos donos da Tabu fez a ação voltar ao ponto de partida. "Em uma situação normal, uma ação leva dois anos para se ter uma decisão em primeira instância. Essa questão já poderia estar resolvida", afirma Rebouças.
Na junta comercial, o advogado descobriu que, em 1996, uma cisão transferiu parte do patrimônio da Tabu para a Auto Viação Vitória SP Ltda. O advogado alegou, então, que a Tabu pertencia ao mesmo grupo econômico, os Ruas Vaz. A Justiça autorizou a transferência da ação de danos morais, que tramitava na 4ª Vara Cível, para a 16ª Vara, onde está o processo de falência da Vitória.
Depois do acidente, Borges Filho foi despedido e não conseguiu outro emprego. Hoje, ele diz receber um auxílio-acidente do INSS de R$ 100 por mês. O dinheiro não cobre nem a despesa com os remédios. "Eles [empresários de ônibus] estão ganhando dinheiro enquanto eu nem consigo voltar ao trabalho", lamenta.


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