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RÉU FANTASMA
Ausência de donos de viação emperra ação
Vítima de acidente espera indenização
DA REPORTAGEM LOCAL
O auxiliar de escritório Adelino Abrantes Borges Filho
olhou para o espelho e, só então, percebeu os hematomas
pelo rosto e uma grande cicatriz no lado direito da cabeça.
Fazia quase seis meses do acidente e somente naquele momento ele começava a perceber
o que tinha acontecido.
Borges Filho caiu, em 1986,
de um ônibus da Auto Viação
Tabu Ltda que trafegava com a
porta aberta e em alta velocidade. Teve traumatismo craniano
e houve formação de coágulo
no cérebro. Quando saiu do
hospital, apresentava seqüelas
neurológicas.
Hoje com 49 anos, ele ainda
toma remédios anticonvulsivos. "Eu agia como uma criança. A memória foi voltando aos
poucos. Só a partir daí [ao perceber os hematomas pelo espelho] comecei a cair na real", diz.
O motorista do ônibus já foi
condenado por lesão corporal.
Mas Borges Filho ainda não
conseguiu responsabilizar civilmente a empresa de ônibus.
A ação por danos morais que
move contra a Tabu desde 2002
-a família de Borges Filho só
concordou com a ação depois
de ele se recuperar- emperra
na dificuldade de se conhecerem os verdadeiros donos.
O vigilante Gerson Antonio
de Lucena, "laranja" que teve
seu nome usado pelos donos
da Tabu, foi citado pela Justiça
nessa ação. "Não há como não
se comover com a história dele", afirma Lucena.
Foi o endereço do vigilante,
no extremo leste de São Paulo,
que provocou a desconfiança
do advogado de Borges Filho,
Fúlvio de Mena Rebouças.
"Um empresário com esse endereço? Só podia ser laranja."
A dúvida em relação aos donos da Tabu fez a ação voltar ao
ponto de partida. "Em uma situação normal, uma ação leva
dois anos para se ter uma decisão em primeira instância. Essa
questão já poderia estar resolvida", afirma Rebouças.
Na junta comercial, o advogado descobriu que, em 1996,
uma cisão transferiu parte do
patrimônio da Tabu para a Auto Viação Vitória SP Ltda. O
advogado alegou, então, que a
Tabu pertencia ao mesmo grupo econômico, os Ruas Vaz. A
Justiça autorizou a transferência da ação de danos morais,
que tramitava na 4ª Vara Cível,
para a 16ª Vara, onde está o
processo de falência da Vitória.
Depois do acidente, Borges
Filho foi despedido e não conseguiu outro emprego. Hoje,
ele diz receber um auxílio-acidente do INSS de R$ 100 por
mês. O dinheiro não cobre nem
a despesa com os remédios.
"Eles [empresários de ônibus]
estão ganhando dinheiro enquanto eu nem consigo voltar
ao trabalho", lamenta.
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