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SP diz não saber o que ocorreu com os 600 presos por atentados
Nos ataques do PCC, autoridades anunciaram existência de serviço de inteligência integrando as polícias Civil e Militar sobre a facção
Para especialista, falta de informação é "uma falha grave na estratégia da segurança pública" do Estado de São Paulo
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo de São Paulo não
consegue apontar hoje, seis
meses após a primeira das três
ondas de ataques da facção criminosa PCC, o que aconteceu
juridicamente com as mais de
600 pessoas presas pelas polícias Civil e Militar acusadas de
participação nos atentados. Ou
seja, se continuam na prisão ou
se já estão em liberdade.
A falta de informações precisas sobre quem são os presos
durante os atentados, ocorridos em maio, julho e agosto, e
onde eles estão hoje demonstra
uma contradição no que as autoridades da Segurança Pública
anunciaram durante os ataques: a existência de um serviço
de inteligência integrando as
polícias Civil e Militar, com informações sobre a facção.
"No registro do caso, não
existe o registro se a pessoa faz
parte ou não do PCC. No B.O.
[boletim de ocorrência], quando é colocado, aparece só o termo facção criminosa", disse
Ênio Lucciola Lopes Gonçalves, assessor do secretário da
Segurança Pública, Saulo de
Castro Abreu Filho.
Durante dois meses e dez
dias -desde 9 de agosto-, a
Folha pediu oficialmente a
Saulo, com base no artigo 5º da
Constituição Federal, no qual
consta o direito de acesso irrestrito às informações públicas, a
divulgação da relação completa
com a identificação e as acusações contra cada um dos 600
presos nos ataques e também
quantos deles continuavam na
prisão, mas nada foi revelado.
"A não-divulgação de dados
como esses é estranha, pois seria bom que o governo demonstrasse que não houve ordem para que as polícias cometessem chacinas. Se 600 pessoas foram presas, até que a letalidade não foi tão grande",
disse o ouvidor de polícia do
Estado, Antonio Funari Filho.
No primeiro semestre deste
ano, a polícia de São Paulo matou 84,27% pessoas (328) a
mais do que no mesmo período
de 2005 (178). Das 328 de
2006, 92, segundo o governo,
tinham ligação com o PCC, mas
isso não foi comprovado até
hoje pelas autoridades.
Para Guaracy Mingardi, diretor científico do Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do
Delito e Tratamento do Delinqüente), o fato de o governo
não saber onde estão as pessoas acusadas de participação
nos atentados do PCC é "uma
falha grave na estratégia da segurança pública em São Paulo".
"O grande inimigo, segundo
eles [autoridades], agora é o
PCC. Por isso, você tem que ter
todas as informações disponíveis e, inclusive, saber onde se
encontram presos e até quando, que tipo de prisão é, cada
um dos membros, das pessoas
que são imputadas a pertencer
ao PCC. Isso é uma falha muito
grave", disse. "Mas não dá para
correr atrás dos dados depois,
você tem que ter eles na mão
antes. É o óbvio ululante!".
Questionado se acredita que
parte das 600 prisões ocorreu
porque as autoridades queriam
demonstrar poder de reação
nos ataques, Mingardi afirmou
"que nem todas".
"Algumas podem mostrar esse ingrediente, de que você
quer demonstrar alguma coisa
e corre atrás. Algumas sabemos
que, aparentemente, têm a ver
com o PCC e os ataques, mas os
outros casos a gente não sabe.
O único jeito de saber é descobrir quem foi preso, por que,
como", afirma.
Outra autoridade que defende reformas na inteligência da
Segurança Pública é Celso Luiz
Limongi, presidente do Tribunal de Justiça: "É preciso compreender que as polícias, não
por sua responsabilidade, estão
desestruturadas. O problema
vem de décadas".
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