São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2008

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Comércio da região central limita uso de banheiros para quem não é consumidor

DA REPORTAGEM LOCAL

O dia do gerente José de Lucena começa sempre da mesma forma (e o mesmo cheiro). Às 7h, ele enche um balde de água com detergente e esfrega calçada, portas e colunas do restaurante Master Fast Food, na praça do Patriarca, para diluir o cheiro de urina que se acumula durante a noite. "A gente chega e é aquele cheirão, não há diabo que pare aqui", reclama, rindo.
A praça liga o viaduto do Chá às ruas do calçadão, como Direita e Quitanda -um trajeto básico de todo turista que caminha no centro. Mas é também um dos locais preferidos dos transeuntes que usam a rua para urinar.
"Aqui dentro não pode, não", diz Lucena, um dos comerciantes que proíbem a utilização do banheiro para quem não consome no bar. É que bastou um dia aberto ao público geral, diz, para roubarem a torneira, a tampa do vaso, a descarga e até a cordinha. "Se tivesse banheiro da prefeitura, eles usariam."
"A praça toda é o sanitário deles", diz José Luiz César, 49, segurança da capela Santo Antônio. "Ontem mesmo tinha um urinando na coluna da igreja às 18h, na hora da missa. Mas paciência, eles vão urinar onde, se não tem banheiro público e se até o shopping Light, onde se ia de graça, agora cobra R$ 0,50?"
Está lá, na parede da padaria Vitalle, a mensagem, em letras de forma azuis e vermelhas: "O sanitário é para uso exclusivo de nossos clientes, não insista". Para ficar mais claro, uma corrente de ferro azul impede a entrada no banheiro. "Aqui mendigo nem entra, porque temos segurança", diz a funcionária.
"Na hora da pressa, a gente apela", diz Gilvan da Silva, 35. Ele conta que, na semana passada, a mulher chegou em apuros à banca onde ele trabalha. "No comércio tem que pagar, então ela foi no banheiro gratuito do metrô", diz. "Mas aquilo é uma desgraça, as "maloqueiras" ficam tomando banho de torneira, não dá pra usar. Minha mulher ficou horrorizada. Lá ela não volta."


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