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Comércio da região central limita uso de banheiros para quem não é consumidor
DA REPORTAGEM LOCAL
O dia do gerente José de Lucena começa sempre da mesma
forma (e o mesmo cheiro). Às
7h, ele enche um balde de água
com detergente e esfrega calçada, portas e colunas do restaurante Master Fast Food, na
praça do Patriarca, para diluir o
cheiro de urina que se acumula
durante a noite. "A gente chega
e é aquele cheirão, não há diabo
que pare aqui", reclama, rindo.
A praça liga o viaduto do Chá
às ruas do calçadão, como Direita e Quitanda -um trajeto
básico de todo turista que caminha no centro. Mas é também um dos locais preferidos
dos transeuntes que usam a rua
para urinar.
"Aqui dentro não pode, não",
diz Lucena, um dos comerciantes que proíbem a utilização do
banheiro para quem não consome no bar. É que bastou um
dia aberto ao público geral, diz,
para roubarem a torneira, a
tampa do vaso, a descarga e até
a cordinha. "Se tivesse banheiro da prefeitura, eles usariam."
"A praça toda é o sanitário
deles", diz José Luiz César, 49,
segurança da capela Santo Antônio. "Ontem mesmo tinha
um urinando na coluna da igreja às 18h, na hora da missa. Mas
paciência, eles vão urinar onde,
se não tem banheiro público e
se até o shopping Light, onde se
ia de graça, agora cobra R$
0,50?"
Está lá, na parede da padaria
Vitalle, a mensagem, em letras
de forma azuis e vermelhas: "O
sanitário é para uso exclusivo
de nossos clientes, não insista".
Para ficar mais claro, uma corrente de ferro azul impede a entrada no banheiro. "Aqui mendigo nem entra, porque temos
segurança", diz a funcionária.
"Na hora da pressa, a gente
apela", diz Gilvan da Silva, 35.
Ele conta que, na semana passada, a mulher chegou em apuros à banca onde ele trabalha.
"No comércio tem que pagar,
então ela foi no banheiro gratuito do metrô", diz. "Mas aquilo é uma desgraça, as "maloqueiras" ficam tomando banho
de torneira, não dá pra usar.
Minha mulher ficou horrorizada. Lá ela não volta."
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