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Vítimas da guerra do tráfico voltavam de festa, diz família
Parentes contestam informação da polícia de que três jovens mortos no Rio durante confronto eram criminosos; PM diz que vai verificar
Rapazes foram metralhados por criminosos, por volta das 2h de sábado, em rua que dá acesso ao morro dos Macacos (zona norte do Rio)
LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Marcelo da Costa Ferreira,
26, foi levado por três primos a
uma festa a fantasia na noite de
sexta, no Rio de Janeiro, para
tentar sair de uma crise de depressão que quase o levou à internação na semana passada.
Por volta das 2h de anteontem, os quatro foram fuzilados
na rua Torres Homem, um dos
acessos ao morro dos Macacos
(zona norte da cidade).
Do grupo, só Francisco Alaílton da Silva, 22, um dos primos,
sobreviveu -ele foi baleado,
mas conseguiu correr. Marcelo,
Leonardo Paulino, 27 e Francisco Ailton da Silva, 25 -irmão de Alaílton-, morreram.
Os quatro voltavam para casa
no mesmo momento em que
criminosos do morro São João
preparavam-se para invadir o
morro dos Macacos. A guerra
de traficantes culminou com
oito ônibus queimados, um helicóptero da Polícia Militar abatido e 15 mortos, entre dois policiais que estavam na aeronave
e os três rapazes.
A ida à festa à fantasia foi relatada ontem à tarde por familiares dos três durante o enterro de Marcelo, Leonardo e Ailton, no cemitério do Catumbi
(centro do Rio).
No fim da cerimônia, 300
pessoas homenagearam os três
com aplausos de cerca de um
minuto. "Há 15 dias estávamos
batendo palmas para o aniversário dele", lamentou a mãe de
Marcelo, Maria da Costa Ferreira, 52.
A versão da família contrastou com a do secretário de Segurança do Rio, José Mariano
Beltrame, que os contabilizou
como "bandidos" durante entrevista anteontem. Nenhum
dos quatro tinha ficha policial,
segundo a Polícia Civil, e todos
eram empregados fixos.
O comandante da PM do Rio,
coronel Mário Sérgio Duarte,
justificou que a afirmação do
secretário foi feita com base em
"notícias coletadas em um primeiro momento, e não podemos sonegar". "Temos que passar à imprensa", disse.
"Engajados no confronto"
Segundo ele, "as informações
eram de que os outros mortos
seriam engajados nos confrontos. Precisamos agora verificar
inclusive a identidade de cada
um. Em momento nenhum disse que tínhamos o número certo de bandidos tombados".
Marcelo Gomes era instalador de ar-condicionado. Francisco Ailton, mecânico e seu irmão, atendente da lanchonete
Habib's. Leonardo, que comemoraria anteontem o aniversário de seu filho, trabalhava havia dez anos em empresa que
prestava serviço ao hospital
São Victor, na Tijuca (zona norte). O hospital São Victor e a rede Habib's confirmaram as informações da família.
Até o fim da tarde de ontem,
o estado de saúde de Alaílton
não era grave, mas inspirava
cuidados, segundo o hospital
do Andaraí, onde ele está internado.
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