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Não troque seu cão por uma criança pobre
BARBARA GANCIA
Colunista da Folha
Estamos acostumados a enxergar tudo às avessas. Roberta Close foi símbolo sexual.
Thereza Collor, PhD em sandálias havaianas, é preferência
nacional. E a gracinha do
Eduardo Dusek, lembra, já se
viu celebrado por aquele verso
solidário: "Troque seu cachorro por uma criança pobre".
Um país que despreza cachorros só pode mesmo ser
ruim da cabeça e doente do pé.
Não bastassem os exemplos
de civilidade perpetrados por
pais que avançam o sinal, jogam papel no chão e aplaudem
o filho que cola, ainda temos
de conviver, você e eu, ó leitor,
de lapidação iluminista, com
essa cambada sem a menor noção do significado da incondicional lealdade, fidelidade e
afeto dos cães.
Encho a boca para condenar
a ignorância tapuia. Segundo
uma recente edição da revista
"Nosso Cão", no currículo das
escolas públicas dos EUA foi
incluído um curso chamado
"best friends" (melhores amigos), que trata de ensinar a
molecada sobre a maravilhosa
experiência de conviver com
um mascote cão.
Veja: quando chove, costumo
levar meu salsicha para passear no shopping Iguatemi, o
único lugar coberto da cidade
que permite a circulação de sacos de pulgas.
Sempre me irrito com uma
cena recorrente, que se dá da
seguinte forma: criança com
menos de 70 cm vem cambaleando em minha direção.
Quando está a uns poucos metros de distância, grita "Au,
au!" e se esconde, alarmadíssima, atrás das pernas da mater.
Rapidamente, a progenitora
trata de ligar alarmes e acionar mísseis antiaéreos: "Cuidado, nenê! O au au morde! O
au au mordeeeeee!"
Cena seguinte: criança com
espasmos musculares e emitindo agudos de romper tímpanos
é amparada pela mãe. Note
que o Pacheco, que ainda não
foi formalmente apresentado,
é metade de uma Coca litro.
Segundo listagens do Kennel
Clube Paulista, o rottweiler,
que, na idade adulta, pesa em
média 60 kg, é um dos cães
mais vendidos no país. Ou seja:
uma gente com longa tradição
de desinteresse e falta de afinidade com a espécie canina está
enfiando máquinas mortíferas
dentro de casa, como quem
contrata os Fonseca's Gang ou
compra um três oitão na Bayard.
Daí a "Veja" e o "Jornal Nacional" dão destaques tipo:
"Cão mata mulher em Piracicaba". Usque tandem...
QUALQUER NOTA
Desinfetante já!
Diz a voz da sabedoria que tudo
tem um lado bom, à exceção do
perfil esquerdo do Julio Iglesias.
Veja a crise econômica: quer hora
mais propícia para o governo tomar as indigestas medidas que
vêm sendo postergadas desde a
puberdade de Monteiro Lobato?
Visconde de Sabugosa
Se Gustavo Kuerten quer faturar
em 98, ele que trate de iniciar um
programa de condicionamento físico já. Cadê o Nuno Cobra?
Cambista do futuro
Tudo bem. Este Natal a gente
apaga da memória. Mas e o réveillon do ano 2000? Nada a ver com
cabala ou numerologia, mas você
já parou para planejar seu roteiro
da virada do milênio? Pois é bom ir
pensando, porque as agências de
viagem já lotearam tudo o que há
de bom e mais em conta.
E-mail barbara@uol.com.br
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