São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

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BEBÊ SEQUESTRADO

Em depoimento à polícia, mãe biológica disse não ter dúvidas sobre a identidade da mulher que levou Pedrinho

Mãe adotiva é a sequestradora, dizem pais

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento à polícia ontem, Maria Auxiliadora Braule Pinto, 49, mãe biológica de Osvaldo Martins Borges Júnior, conhecido em Brasília como Pedrinho -recém-nascido sequestrado da maternidade em 1986-, afirmou ter reconhecido Vilma Martins Costa, 47, a mãe adotiva, como a mulher que levou o bebê de seu quarto.
Maria Auxiliadora, conhecida como Lia, disse em depoimento aos delegados que identificou Vilma "com absoluta certeza, sem qualquer dúvida" na reportagem veiculada pela Rede Globo no dia 9, um dia após a identificação de Pedrinho por um exame de DNA.
No depoimento de duas horas e quarenta minutos, Lia disse que decidiu não trazer o assunto à tona porque o reencontro com o filho estava marcado para o dia seguinte, em Goiânia, e não queria atrapalhar a reaproximação.
Após o depoimento, em entrevista ao lado do marido, Jayro Tapajós, mandou um recado para o filho: "Estou correndo o risco de que você não me queira e ficar com raiva de eu estar denunciando a Vilma. Eu sou grata a ela por ter cuidado de você. Eu daria tudo, meu filho, para evitar isso, para tirar essa dor. Eu gostaria muito que não fosse ela, mas não tenho dúvidas".
Lia disse para o delegado Julião Ribeiro, chefe da Delegacia de Homicídios, que sentiu "um profundo mal-estar" antes do primeiro e único encontro com Osvaldo Júnior, devido à presença da mãe adotiva, que já era tida como suspeita pela polícia.
Ainda de acordo com o depoimento, Vilma teria dito: "Você sabe que não fui eu quem entrou no quarto e tirou o seu filho, não sabe?" Lia disse ao delegado que interpretou a pergunta como uma "ameaça velada" e que se sentiu "vigiada" pela família adotiva durante o almoço.
Na ocasião, os jornalistas registraram o momento em que Lia teve uma crise de choro e teve de sair da mesa por alguns momentos. Ao chegar a Goiânia, Lia precisou ser sustentada pelo marido para entrar na casa de Vilma.
Lia disse que reconheceu o olhar e a voz de Vilma. De acordo com o depoimento, a sequestradora entrou diversas vezes no quarto do hospital, usou o telefone e ajudou Lia a usar o chuveiro.
O pai biológico de Pedrinho, Jayro Tapajós Braule Pinto, disse ontem que "só há uma chance de paz entre as famílias, que é o convívio". Mas, se Vilma não permitir o convívio de Pedrinho com os pais biológicos, Jayro ameaça pedir a guarda do filho na Justiça.
A Polícia Civil ouvirá hoje, em Goiânia, Vilma e seu irmão, Sinfrônio, que já teria dito em depoimento que levou a irmã para Brasília em janeiro de 1986. Também serão tomados os depoimentos de familiares do pai adotivo de Osvaldo Júnior, que morreu de câncer no mês passado.
Após a entrevista dos pais biológicos, em que detalhes do depoimento foram revelados, a Folha não conseguiu localizar Vilma e seu advogado.


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