São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

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AMBIENTE

Periferia tem mais mortes de idosos por doenças respiratórias que regiões nobres

Área pobre sofre mais com poluição

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Que crianças, idosos e portadores de doenças respiratórias e cardiovasculares estão mais sujeitos a ser afetados, e até a morrer, pela exposição à poluição atmosférica não é propriamente novidade. Um novo fator de risco, entretanto, vem se juntar a eles: a pobreza.
As mortes de pessoas acima de 64 anos por causa de doenças respiratórias chegam a ser mais do que o dobro no distrito de São Miguel (periferia na zona leste de São Paulo) em relação a Cerqueira César (área nobre da zona oeste). As duas regiões têm índices similares de concentração de partículas inaláveis (até dez microgramas por mil litros de ar).
As partículas são grãos microscópicos de poeira que carregam para os pulmões substâncias prejudiciais à saúde humana.
As deficiências no atendimento de saúde e as más condições gerais em que vivem os moradores de áreas mais pobres os tornam mais suscetíveis aos poluentes.
As conclusões constam da tese de doutorado da arquiteta Maria Cristina Haddad Martins e foram apresentadas ontem, no fórum "A Poluição em São Paulo: Atividades Geradoras, Impactos e Controles", pelo orientador dela, Alfesio Luiz Braga, pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP (Universidade de São Paulo).
O estudo avaliou as mortes de idosos que viviam em seis regiões de São Paulo, num raio de dois quilômetros de onde a Cetesb (agência ambiental paulista) tem estações de medição da qualidade do ar. Os idosos foram escolhidos porque migram menos durante o dia e, por isso, refletem melhor a qualidade do ar local.
A classificação em ordem crescente de vítimas fatais foi: Cerqueira César, zona sul, centro, Santana (zona norte), Penha e São Miguel (ambos na zona leste).
"Quando se cruzam os dados de escolaridade e renda com os de mortes, a relação é também inversa: quanto maior o segundo, menores os primeiros. O próximo passo é recuperar, caso a caso, a história de vida dos que morreram para conseguir determinar com mais exatidão qual a influência da poluição", afirma Braga.
Outro problema ambiental levantado no fórum foi a poluição sonora. Uma pesquisa realizada pela fonoaudióloga Carolina Moura, que mediu o nível de decibéis em 75 pontos da capital paulista, aponta que em nenhum deles são respeitados os limites previstos na legislação.


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