|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EDUCAÇÃO
Para especialistas, exclusão ocorre antes da prova; neste ano, só 1,5% dos aprovados na Fuvest são afrodescendentes
Negros se inscrevem menos no vestibular
CAROL FREDERICO
DAS REGIONAIS
Você sabe quantos negros foram aprovados nos principais
vestibulares de instituições públicas no Estado de São Paulo? No
último vestibular da Fuvest -o
maior do Brasil-, dos 143.071
inscritos, apenas 4.810 eram pretos. Desses, somente 139 foram
aprovados, ou seja, 1,5%.
O debate sobre a adoção de cotas para negros nas universidades
levantou a necessidade de saber a
cor dos candidatos.
Em São Paulo, a autoclassificação da cor da pele, de acordo com
a terminologia do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), passou a fazer parte do questionário de avaliação socioeconômica da Unesp (Universidade Estadual Paulista), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo),
da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e da UFSCar
(Universidade Federal de São
Carlos) apenas nos vestibulares
para ingresso em 2003.
A USP (Universidade de São
Paulo), exceção, coleta os dados
desde o vestibular de 2000. Já o
ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) não tem estatísticas.
Segundo o Censo de 2000, dos
2.864.046 brasileiros matriculados em cursos superiores, 78,5%
eram brancos, 0,23% eram pretos
(que são 6,2% da população) e
1,61%, pardos -os 19,66% demais eram amarelos, indígenas
ou de "cor ignorada". O que se
nota é um percentual decrescente
no número de negros à medida
que avança o nível de ensino. Dados do Seab (Sistema de Avaliação da Educação Básica) revelam
que alunos negros são excluídos
prematuramente da escola. A
quantidade de negros na última
série do ensino médio é reduzida
pela metade se comparada ao último ano do ensino fundamental.
Na hora do vestibular, outra peneira: considerando agora pretos
e pardos, dado de 2002 do IBGE
aponta que só 26% dessa população, entre 18 e 24 anos, está apta a
prestar o concurso, ou seja, possui
o 2º grau completo; os brancos
contabilizam 72%. O mais grave é
que, desse percentual, menos da
metade se inscreve no exame.
Em 2002, apenas 3,3% dos candidatos ao exame da Fuvest se declararam negros. Na Unicamp, o
índice foi ainda menor: 2,1%.
"Pode-se dizer que a exclusão é,
na verdade, uma autoexclusão e
ocorre antes mesmo do vestibular. Percebemos também que esses candidatos evitam os cursos
mais concorridos", diz Leandro
Tessler, 41, coordenador da Comvest (Comissão Permanente para
os Vestibulares) da Unicamp.
"Esses candidatos também optam mais por cursos noturnos e
pelas licenciaturas, considerados
"mais fáceis de passar". O que significa que, além de serem minoria, não se distribuem de maneira
uniforme nas diferentes áreas",
acrescenta Roberto Costa, 62,
coordenador da Fuvest.
Nos cursos mais concorridos, a
situação é mais crítica. No vestibular de 2003, só dois candidatos
negros foram aprovados para os
cursos de medicina oferecidos pelas universidades públicas paulistas. Roberta Monteiro, 19, é uma
das aprovadas na medicina da Pinheiros. Filha de pai negro e mãe
mulata, estudou em escola particular e fez cursinho. Foi aprovada
entre os 20 melhores da Fuvest.
"O número é de fato muito baixo,
mesmo porque muitos se declaram pardos. Muitas pessoas não
me consideram negra."
Texto Anterior: Goiás: Leonardo sofre acidente de carro; 1 morre Próximo Texto: ONG inaugura faculdade para negros Índice
|