São Paulo, sexta-feira, 19 de novembro de 2004

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AGENDA DA TRANSIÇÃO

Acordo entre vereadores petistas e de partidos como PMDB, PP e PTB cria maioria contra o PSDB na Câmara

Partidos se unem a PT e pressionam Serra

PEDRO DIAS LEITE
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Dezesseis vereadores de um bloco que se uniu para ganhar força nas negociações com o prefeito eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), selaram ontem um acordo com o PT e o PC do B a fim de disputar o comando da Câmara Municipal contra os tucanos.
No total, o acordo foi assinado por 29 dos 55 parlamentares, incluindo 16 de PMDB, PTB e PP. Reúne vereadores que hoje apóiam Marta Suplicy (PT) e controlam cargos na atual gestão.
Apesar de esses vereadores sempre negarem que pleiteiem cargos -já divulgaram até uma nota na semana passada-, reservadamente parlamentares experientes afirmam que é muito mais estratégico negociar com a nova gestão tendo o comando da Câmara. Passariam a dispor de muito mais poder de barganha.
Para eleger o presidente, são necessários 28 votos. Além de deter o controle do Legislativo, essa maioria também pode comandar as principais comissões, como a de Finanças, e teria muito mais influência na votação dos projetos de interesse de Serra.
Ontem, o tucano disse que "não há nenhuma possibilidade de fazer troca-troca de cargos". Ressaltou, no entanto, que vai trabalhar "conjuntamente" com eles.
Um dos líderes do bloco de 16, o vereador Milton Leite (PMDB) afirmou "estranhar" a fala do tucano. "A mim não importam as declarações do prefeito Serra. Nós nunca pleiteamos nada."
Os vereadores do PSDB, que atualmente são oito e em 2005 somarão 13, dizem estar incomodados com a paralisia tucana nas negociações. Alguns admitiram ter ficado "perplexos" com o documento, assinado pelos 29 vereadores -12 do PT, 5 dos 7 do PTB, 3 do PL, 4 do PP e 4 do PMDB.

Tucanos desdenham união
Parlamentares do PSDB, porém, ainda confiam numa oferta de cargos para atrair vereadores do bloco e ganhar a presidência. Uma das hipóteses estudadas pela própria equipe de transição é lotear as subprefeituras, como tem sido feito ininterruptamente desde a gestão Paulo Maluf (93-96).
Em um Legislativo com um histórico de traições, os tucanos focam especialmente no PTB e no PP para ganhar a maioria na Câmara paulistana.
Publicamente, os integrantes do novo bloco não acreditam em defecções. "Tenho certeza de que nós [o grupo] faremos a presidência", disse Francisco Chagas (PT).
O vereador Milton Leite lembra que o PSDB já se aliou a esses mesmos vereadores que hoje acusa de quererem apenas cargos. Em 2002, Antonio Carlos Rodrigues (PL) tinha a maioria na disputa pelo comando da Casa até dois dias antes da eleição. Venceu Arselino Tatto (PT), apoiado pela máquina da prefeitura de Marta.
Apesar de todas as trocas de farpas, o prefeito eleito disse confiar numa relação "harmônica" com os vereadores. "Não vamos perseguir nenhum parlamentar, seja de que partido for", falou Serra.
Na entrevista em que vereadores dos partidos que fecharam o acordo deram ontem à noite para anunciar oficialmente o acerto, houve uma saia justa.
O vereador Paulo Frange (PTB) criticou duramente a atual gestão. "Passamos dois anos só apertando botão. Isso tem de mudar", disse, ao lado do líder do atual governo, João Antonio (PT). Só 1 dos 13 eleitos do PT, aliás, não aderiu ao acordo. Carlos Giannazi disse que a aliança é "antagônica" com a história do partido.


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