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RETRATOS DO PAÍS
Segundo estudo de programa da ONU, se os brancos formassem uma nação à parte, posição seria a 44ª
Brasil dos negros é o 105º de ranking social
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo divulgado ontem
pelo Pnud (Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento)
mostra que, se os negros brasileiros formassem um país, ele ocuparia a 105ª posição no ranking
que mede o desenvolvimento social no mundo, enquanto o Brasil
"branco" seria o 44º.
A publicação, chamada de "Relatório de Desenvolvimento Humano Brasil 2005 - Racismo, Pobreza e Violência", foi lançada em
São Paulo. Ela envolve a análise de
dados relacionados a desenvolvimento humano, educação, saúde,
violência e habitação.
Devido às desigualdades no país
apontadas na pesquisa, o órgão
da ONU (Organização das Nações
Unidas) disse que a democracia
racial no Brasil é um "mito".
Segundo o último censo do
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), feito em 2000,
44,7% da população brasileira se
autodeclarou negra ou parda.
Uma das tabulações presentes
no relatório analisa o IDH de
2002, índice feito pelo próprio
Pnud que mede o desenvolvimento humano dos países, considerando a expectativa de vida, a
alfabetização e o PIB (Produto Interno Bruto) per capita.
Se brancos e negros do Brasil
formassem países separados, seriam 61 posições de diferença. O
ranking liderado pela Noruega
tem 173 países. O Brasil "unificado" fica em 73º. O Uruguai é o 40º,
o México 54º e a Argentina, 34ª.
As diferenças também aparecem dentro do país. A faixa mais
bem posicionada no IDH seria a
de brancos do Distrito Federal,
33º lugar, semelhante ao da República Tcheca, onde o PIB per capita anual era de US$ 14 mil -em
valor atual, R$ 31.200.
Por outro lado, os negros de
Alagoas ficariam em 122º lugar,
com a Namíbia, cujo PIB per capita era de US$ 6.500 (R$ 14.500).
"Isso mostra a diferença de
bem-estar que há no país. Temos
o Leste Europeu e a África", afirmou José Carlos Libânio, membro do Pnud e um dos principais
colaboradores do relatório.
Neste ano, os dados relacionados ao IDH foram atualizados,
mas não foi possível usá-los -o
relatório divulgado ontem demorou dois anos para ser concluído.
Mito
O estudo analisou também índices sobre itens como saúde e educação. "Em todos os dados vemos
que a população negra está mal",
disse Diva Moreira, editora do relatório. "Não vamos superar a pobreza e a violência do país sem enfrentar o racismo presente na estrutura da sociedade brasileira."
Foram essas constatações que
levaram o Pnud a afirmar no relatório que a democracia racial brasileira é um "mito".
Alguns exemplos apontados no
relatório: 2,5% dos negros estão
no ensino superior, ante 11,7%
dos brancos; a mortalidade infantil, em cada mil nascidos vivos, é
de 30,75 entre os negros e de 22,93
entre os brancos.
O relatório aponta ainda que a
porcentagem de homens negros
com curso superior completo em
2000 era menor do que a dos homens brancos em 1960. Já a esperança de vida dos negros, também
em 2000, era semelhante à dos
brancos em 1991.
Isso, de acordo com o estudo,
mostra que a população negra está com uma geração de atraso em
algumas questões sociais.
A pesquisa apontou também
problemas no mercado de trabalho. Entre as 500 maiores empresas do país, 23,4% dos profissionais nos cargos mais baixos são
negros. Já nos postos mais altos,
de executivos, o índice cai para
1,8%. Os dados são do Instituto
Ethos, pesquisados em 2003.
Para diminuir essa diferença, o
relatório afirma que são necessárias, além de políticas universalistas, medidas pontuais, como as
cotas de vagas -tanto no ensino
superior quanto nos empregos
dos serviços públicos.
"Essas medidas devem ser temporárias, mas têm de ser tomadas.
Se mantiver a velocidade do que
está hoje, demorará 500 anos para
haver um equilíbrio", afirmou Libânio. "Para atingir a igualdade, é
preciso tratar desigualmente
quem está em situação desigual."
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