São Paulo, sábado, 19 de novembro de 2005

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Para estudante, discriminação é "um trauma"

DA REPORTAGEM LOCAL

Cibele de Sousa Lima, 21, cresceu em uma região pobre no bairro do Jaraguá, na zona norte de São Paulo. Filha de pais negros, viu os dois morrerem antes que completasse 18 anos. Afirma que o acesso precário à saúde colaborou para que isso ocorresse.
"Meu pai morreu em casa, depois de passar por um hospital público que não o internou. Minha mãe, vítima de uma parada cardiorrespiratória, demorou para ser atendida." Ela própria teve problemas na rede pública. Uma tuberculose foi diagnosticada como uma "simples tosse". "Disseram para tomar xarope que passaria. Fiquei muito mal."
Os problemas, que para Cibele estão associados ao fato de ser negra, permeiam outras áreas de sua vida. Hoje, vive com dois irmãos, um cunhado e cinco sobrinhos. Ela e seus irmãos estão desempregados e sobrevivem de bicos. "O problema para conseguir trabalho começa nos currículos que temos que enviar com fotos. Depois, tem as entrevistas. Se entro na fila e vejo duas loiras, já era."
Para Cibele, que atualmente freqüenta o cursinho da ONG Educafro, a discriminação racial "pessoalmente, marca muito. Começa ainda criança, com as piadinhas racistas de colegas na escola. É um trauma. E a gente cresce querendo mudar isso. A melhor maneira é adquirindo conhecimento, por isso estou estudando".

Secretário
Hoje secretário da Justiça do Estado de São Paulo, o advogado Hédio Silva Júnior também sofreu com a discriminação racial.
"Quando eu tinha 12 anos, houve um furto na sala da direção da escola. Éramos dois alunos negros naquele período, num colégio público de um bairro periférico de São José dos Campos. E, aí, a professora de português disse: "Não quero acusar ninguém. Mas, para mim, quem roubou foi o Hédio e o Paulinho". Acusou na nossa cara e em sala de aula", conta.
A dona-de-casa Simone Diniz, 27, numa entrevista por telefone para trabalhar como empregada doméstica, foi recusada quando disse ser negra. "A mulher disse que a minha cor não preenchia os requisitos necessários à vaga."
Arquivado pela Justiça brasileira, seu caso foi levado para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA -o Brasil pode ser responsabilizado por conivência com o crime de racismo.


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