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Para estudante, discriminação é "um trauma"
DA REPORTAGEM LOCAL
Cibele de Sousa Lima, 21, cresceu em uma região pobre no bairro do Jaraguá, na zona norte de
São Paulo. Filha de pais negros,
viu os dois morrerem antes que
completasse 18 anos. Afirma que
o acesso precário à saúde colaborou para que isso ocorresse.
"Meu pai morreu em casa, depois de passar por um hospital
público que não o internou. Minha mãe, vítima de uma parada
cardiorrespiratória, demorou para ser atendida." Ela própria teve
problemas na rede pública. Uma
tuberculose foi diagnosticada como uma "simples tosse". "Disseram para tomar xarope que passaria. Fiquei muito mal."
Os problemas, que para Cibele
estão associados ao fato de ser negra, permeiam outras áreas de sua
vida. Hoje, vive com dois irmãos,
um cunhado e cinco sobrinhos.
Ela e seus irmãos estão desempregados e sobrevivem de bicos. "O
problema para conseguir trabalho começa nos currículos que temos que enviar com fotos. Depois, tem as entrevistas. Se entro
na fila e vejo duas loiras, já era."
Para Cibele, que atualmente freqüenta o cursinho da ONG Educafro, a discriminação racial "pessoalmente, marca muito. Começa
ainda criança, com as piadinhas
racistas de colegas na escola. É um
trauma. E a gente cresce querendo mudar isso. A melhor maneira
é adquirindo conhecimento, por
isso estou estudando".
Secretário
Hoje secretário da Justiça do Estado de São Paulo, o advogado
Hédio Silva Júnior também sofreu
com a discriminação racial.
"Quando eu tinha 12 anos, houve um furto na sala da direção da
escola. Éramos dois alunos negros naquele período, num colégio público de um bairro periférico de São José dos Campos. E, aí, a
professora de português disse:
"Não quero acusar ninguém. Mas,
para mim, quem roubou foi o Hédio e o Paulinho". Acusou na nossa cara e em sala de aula", conta.
A dona-de-casa Simone Diniz,
27, numa entrevista por telefone
para trabalhar como empregada
doméstica, foi recusada quando
disse ser negra. "A mulher disse
que a minha cor não preenchia os
requisitos necessários à vaga."
Arquivado pela Justiça brasileira, seu caso foi levado para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA -o Brasil
pode ser responsabilizado por conivência com o crime de racismo.
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