São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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ACIDENTE

Barco, que ia de Manaus a Belém, levava cerca de 300 pessoas, mas tinha capacidade para 140; 30 estão desaparecidos

Naufrágio deixa pelo menos 7 mortos no PA

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O naufrágio do barco Dom Luiz 15-1º deixou pelo menos sete pessoas mortas, das quais, cinco crianças, anteontem à noite, no rio Pará, próximo ao porto de Vila do Conde, em Barbarena (120 km de Belém). Outras 265 pessoas foram resgatadas e 30 estariam desaparecidas.
"O barco virou de uma vez só depois que o casco começou a se despedaçar. A maré estava muito forte e balançava muito. Foi um momento de muito pânico e desespero. Havia muitas crianças e idosos na viagem", disse Raimundo Nonato Ferreira, 42, um dos sobreviventes do naufrágio.

Excesso de peso
As buscas duraram toda a madrugada e o dia de ontem. A Capitania dos Portos acredita que o naufrágio foi ocasionado pelo excesso de peso. A capacidade do barco é para 140 pessoas, mas carregava cerca de 300 passageiros.
A embarcação fazia o trajeto Manaus (AM)-Santarém (PA)-Belém (PA) e saiu, na sexta-feira, com a capacidade total em Manaus, segundo a Capitania dos Portos da Amazônia Ocidental.
No entanto, em Belém, a Capitania dos Portos da Amazônia Oriental informou que o Dom Luiz 15-1º havia saído com 112 pessoas de Manaus.
Durante o percurso, o barco só tinha autorização para apanhar passageiros em Santarém, mas parou, indevidamente, em quatro portos para pegar alguns passageiros e cargas.
O capitão Jerte Bazyl admitiu a falha de fiscalização durante o percurso. "Falta controle em cidades intermediárias. O proprietário e o comandante terão que responder por aquilo que aconteceu", disse Bazyl. O barco tinha oito tripulantes e pertencia a Carlos Augusto da Silva, dono da empresa de mesmo nome.
Um inquérito administrativo será instaurado para apurar se houve negligência por parte da fiscalização e também encaminhará o caso para investigação do Ministério Público.
A maioria das vítimas é moradora de Manaus e Belém.

Percurso
Em Santarém, a embarcação foi novamente vistoriada pela Delegacia Fluvial às 11h de domingo, quando seguia para Belém, mas o número de passageiros era menor do que o autorizado em Manaus.
"A embarcação foi despachada com 118 passageiros de Santarém", disse por telefone o comandante da delegacia, capitão-de-corveta Francisco Carlos Torres de Matos.
Segundo ele, na cidade de Monte Alegre, a 50 km de Santarém, o barco Dom Luiz 15-1º recebeu uma carga de 38 toneladas.
"O barco recebeu muita carga e passageiros. Como nessas cidades não têm fiscalização nossa, o controle não existe, o barco sai com capacidade muito além do permitido. É uma negligência", disse o capitão Matos.

Lotação
A embarcação era um modelo regional com casco de madeira, 36 metros de comprimento e dois andares. Tinha lotação para 140 passageiros e capacidade de 140 toneladas de carga no porão. O barco possuía seis camarotes. A maioria dos passageiros estava alojada em redes atadas nos tetos dos convés.
Na sexta-feira passada, quando o Dom Luiz 15-1º saiu de Manaus em direção a Belém, a Marinha brasileira lançou o Programa de Segurança da Navegação na Amazônia, que tem por objetivo desenvolver atividades para ampliar a consciência de tripulantes, comandantes e passageiros dos riscos da navegação nos rios da região, que são as estradas para inúmeras comunidades ribeirinhas.


Colaborou KÁTIA BRASIL, da Agência Folha, em Manaus


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