|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAÚDE
Estado tem 18.570 pessoas à espera de doação; no país, fila cresceu 9,57%, mas expectativa é aumentar cirurgias em 4,7%
Número de transplantes cresce 18,2% em SP
CAIO JUNQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O número de transplantes de
órgãos realizados neste ano em
São Paulo cresceu 18,2% em comparação a 2002, de acordo com a
Secretaria Estadual da Saúde.
Apesar disso, 13.420 pessoas no
Estado aguardam na fila por um
órgão. Outras 5.150 esperam por
córneas (que são tecidos). Isso
significa um aumento de 5,84%
em relação a 2002.
No país, a situação é pior, pois o
crescimento da fila foi bem maior
que o de transplantes. Enquanto o
Ministério da Saúde espera aumentar o total de operações em
4,7% no mesmo período, 56.717
pessoas aguardam por um transplante -um aumento de 9,57%.
Segundo o ministério, foram
realizados, até setembro deste
ano, 8.355 transplantes de córneas e de órgãos em todo o país,
sendo 3.388 apenas no Estado de
São Paulo. Os dados da Secretaria
da Saúde diferem dos do ministério, já que estão atualizados até o
dia 15 deste mês: são 3.908 cirurgias (2.930 de córneas).
Há Estados, porém, que nem sequer realizam transplantes por
falta de estrutura e de profissionais especializados.
Apesar do crescimento, os números de cirurgias em São Paulo
ainda estão aquém do ideal. São
cerca de 9,9 doadores por milhão
de habitantes. Na Espanha, que
tem as melhores taxas, são 33,5
por milhão de habitantes.
Na espera
Manoela Ungari, 22, espera por
um pulmão há 18 meses. Ela tem
fibrose cística, uma doença genética que ataca os pulmões e o pâncreas, o que a obriga a conviver
com uma bolsa portátil de oxigênio, recarregável a cada quatro
horas. Sua irmã, Jessica Ungari,
20, sofre da mesma doença e, segundo os médicos, ela também
precisará de um transplante.
As irmãs Eva Cristina, 24, Ana
Paula, 22, e Ana Maria Reinelt, 22,
estão na fila há três anos e meio.
Elas precisam de um transplante
de rim por sofrerem de glomeruloesclerose focal, doença rara que
afeta 42 pessoas no mundo. Enquanto esperam, elas têm sessões
de quatro horas de hemodiálise,
três vezes por semana.
O produtor musical Wanderlei
Guarino, 38, é um dos que estão
entrando na fila de espera por um
fígado. Após a extração de um cálculo renal no início do ano, ele
descobriu ter cirrose hepática.
"Quando recebi a notícia, desmoronei", afirma.Os médicos lhe
deram quatro anos de expectativa
de vida sem o transplante -tempo médio de espera na fila.
O ator Norton Nascimento, 41,
está internado na UTI do hospital
da Beneficência Portuguesa, em
São Paulo, após ter sofrido sérios
problemas cardíacos. De acordo
com o boletim médico divulgado
na tarde de ontem, o estado do
ator é "gravíssimo", e ele aguarda
um transplante de coração.
Nascimento foi hospitalizado
no último dia 15 para uma cirurgia de correção de aneurisma na
aorta, problema diagnosticado há
cerca de quatro meses. Durante a
cirurgia, o ator teve insuficiência
cardíaca grave devido ao mau
funcionamento do ventrículo esquerdo, o que fez com que fosse
imediatamente levado à UTI.
A Folha apurou que, até o fechamento desta edição, não havia na
central de transplantes de São
Paulo nenhum órgão compatível
para o ator.
Fila única
Embora seja chamada de "fila
única", nem sempre quem está na
frente da lista de espera recebe
primeiro os órgãos de um eventual doador. Isso porque é preciso
considerar características do receptor e do doador do órgão
-como idade, peso, altura e grupo sanguíneo. Além disso, o receptor pode não ser localizado a
tempo ou não estar em condições
de receber o órgão no momento.
Para o presidente da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos), José Osmar Medina Pestana, a fila vai continuar aumentando, ainda que o número
de transplantes cresça.
"Quanto melhor o sistema de
saúde, maior o número de pessoas que vão entrar na fila de
transplantes e menor o número
de pessoas que vão morrer com
capacidade de doar", diz.
Pestana afirma que a prioridade
é aumentar a conscientização das
pessoas e dos hospitais, já que, de
cada dez potenciais doadores, as
instituições notificam às centrais
de transplantes apenas um.
Já o coordenador da central de
transplantes da Secretaria da Saúde, Luiz Augusto Pereira, atribui o
aumento de operações no Estado
de São Paulo ao modelo gerencial
adotado pela central desde 1998.
"A captação de órgãos foi descentralizada no Estado em dez regiões. Cada hospital ficou responsável por uma delas e, dentro deles, aumentou o trabalho de conscientização", disse Pereira.
Seis desses hospitais estão localizados no interior (Campinas,
Sorocaba, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Marília e Botucatu) e quatro na capital. Em cada
um deles funciona uma OPO (Organização de Procura de Órgão).
Para diminuir a fila de espera, o
Ministério da Saúde lançou, em
novembro, uma campanha para
incentivar que as pessoas que
querem doar órgãos comuniquem a decisão aos seus familiares. Em caso de morte cerebral, a
família pode autorizar a doação.
Colaborou a Ilustrada
Texto Anterior: Câmeras vão facilitar viagem ao litoral norte Próximo Texto: "Levo a vida com mais leveza", diz transplantado Índice
|