|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BARBARA GANCIA
Fala sério, Michael Moore!
Até quem não é freguês do
canal MTV e não ouve a 89
FM já deve estar familiarizado
com a figura do Porteiro Zé, o
personagem que caiu nas graças
da molecada.
Zé é a estrela de um desenho
animado e de um programa de
rádio, e os episódios com suas trapalhadas podem vistos na internet. De fala embolada e sotaque
nordestino, o Porteiro Zé trabalha em um edifício de classe média e nunca entende nada do que
lhe é dito.
Ele vive trocando as bolas e é do
tipo que, aos domingos, coloca a
"IstoÉ" na porta de quem assina
a "Veja", e a "Época" na porta do
apartamento que acaba de ser
evacuado para reforma.
O confuso funcionário não sabe
transmitir recados, não consegue
relacionar o número do apartamento ao nome do morador e vive criando caso com as visitas.
Aposto um picolé de limão como
o nobre leitor já deve ter esbarrado no Porteiro Zé em suas andanças pela cidade.
Ele está em toda parte e nem
sempre vem acompanhado do sotaque nordestino ou do título de
porteiro. Na tourada em que se
transformam as compras de Natal, tenho encontrado o Zé em vários estabelecimentos comerciais.
Ultimamente, nosso herói parece ter adquirido mais uma, entre
tantas qualidades: o cacoete de
responder com um "Não pode" ou
"Não é permitido" até à pergunta
mais amena.
Em tempos em que emprego é
mercadoria escassa, é de admirar
que não passe pela antecâmara
do cérebro do Zé a idéia de consultar um superior antes de disparar o centésimo "Não pode" do
dia. Que nada. Ele se mantém firme como a rocha de Gibraltar e vai apertando as teclas do interfone com ares de autoridade.
Documentarista, escritor e panfletário para as negas dele, o norte-americano Michael Moore costuma interpretar os fatos a gosto.
Seu artigo "Capturamos o nosso
amado Frankenstein", publicado
na Folha, nesta semana, acusa
com infantilidade os EUA de ter
criado o monstro Saddam só para
defender o petróleo da Arábia
Saudita. Ora, pode ser que Moore
ainda se locomova de diligência.
Mas, para o resto de nós, que vive
na sociedade pós-industrial, o petróleo saudita ainda é um bem
precioso. Não é à toa que, quando
Moore lançou o documentário
"Roger and Me", a revista "New
Yorker" atacou seu simplismo dizendo: "No filme, o público pode
rir do trabalhador comum e ainda sentir que está tomando uma
posição politicamente correta".
QUALQUER NOTA
Desambientados
Não captou o espírito da coisa a
equipe do Café Costes, de Paris,
que toca a cozinha do Clube
Chocolate, a lindíssima megaloja que acaba de ser inaugurada nos Jardins. A francesada
grita sem parar com os funcionários tapuias, que revidam
sorrindo. Abaixo do equador, o
mau humor parisiense não passa de ar quente.
Boa ação
Só podia estar tomado pelo espírito do Natal quem levou as
2.000 caixas de botox do Hospital das Clínicas. Por algumas semanas, o gesto cristão irá nos
poupar de abrir a "Caras" e topar com a turma que tem um
olho aqui e o outro no joelho.
E-mail - barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia
Texto Anterior: Equipe cria máquina que simula coração Próximo Texto: Qualidade das praias: Município de Praia Grande tem piora da balneabilidade Índice
|