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São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 2003

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BARBARA GANCIA

Fala sério, Michael Moore!

Até quem não é freguês do canal MTV e não ouve a 89 FM já deve estar familiarizado com a figura do Porteiro Zé, o personagem que caiu nas graças da molecada.
Zé é a estrela de um desenho animado e de um programa de rádio, e os episódios com suas trapalhadas podem vistos na internet. De fala embolada e sotaque nordestino, o Porteiro Zé trabalha em um edifício de classe média e nunca entende nada do que lhe é dito.
Ele vive trocando as bolas e é do tipo que, aos domingos, coloca a "IstoÉ" na porta de quem assina a "Veja", e a "Época" na porta do apartamento que acaba de ser evacuado para reforma.
O confuso funcionário não sabe transmitir recados, não consegue relacionar o número do apartamento ao nome do morador e vive criando caso com as visitas. Aposto um picolé de limão como o nobre leitor já deve ter esbarrado no Porteiro Zé em suas andanças pela cidade.
Ele está em toda parte e nem sempre vem acompanhado do sotaque nordestino ou do título de porteiro. Na tourada em que se transformam as compras de Natal, tenho encontrado o Zé em vários estabelecimentos comerciais.
Ultimamente, nosso herói parece ter adquirido mais uma, entre tantas qualidades: o cacoete de responder com um "Não pode" ou "Não é permitido" até à pergunta mais amena.
Em tempos em que emprego é mercadoria escassa, é de admirar que não passe pela antecâmara do cérebro do Zé a idéia de consultar um superior antes de disparar o centésimo "Não pode" do dia. Que nada. Ele se mantém firme como a rocha de Gibraltar e vai apertando as teclas do interfone com ares de autoridade.
Documentarista, escritor e panfletário para as negas dele, o norte-americano Michael Moore costuma interpretar os fatos a gosto. Seu artigo "Capturamos o nosso amado Frankenstein", publicado na Folha, nesta semana, acusa com infantilidade os EUA de ter criado o monstro Saddam só para defender o petróleo da Arábia Saudita. Ora, pode ser que Moore ainda se locomova de diligência. Mas, para o resto de nós, que vive na sociedade pós-industrial, o petróleo saudita ainda é um bem precioso. Não é à toa que, quando Moore lançou o documentário "Roger and Me", a revista "New Yorker" atacou seu simplismo dizendo: "No filme, o público pode rir do trabalhador comum e ainda sentir que está tomando uma posição politicamente correta".

QUALQUER NOTA

Desambientados
Não captou o espírito da coisa a equipe do Café Costes, de Paris, que toca a cozinha do Clube Chocolate, a lindíssima megaloja que acaba de ser inaugurada nos Jardins. A francesada grita sem parar com os funcionários tapuias, que revidam sorrindo. Abaixo do equador, o mau humor parisiense não passa de ar quente.

Boa ação
Só podia estar tomado pelo espírito do Natal quem levou as 2.000 caixas de botox do Hospital das Clínicas. Por algumas semanas, o gesto cristão irá nos poupar de abrir a "Caras" e topar com a turma que tem um olho aqui e o outro no joelho.

E-mail - barbara@uol.com.br
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