São Paulo, Quinta-feira, 20 de Janeiro de 2000


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EDUCAÇÃO
Universidades particulares dão bolsa de estudo, pagam salário e aceitam notas de outros exames
Faculdades atraem alunos com promoção

ANTÔNIO GOIS
da Reportagem Local

Universidades particulares estão usando artifícios, estratégias de marketing e até recursos irregulares, no entender do CNE (Conselho Nacional de Educação), para atrair mais alunos aos vestibulares realizados neste mês.
Uma faculdade está dando bolsa integral e pagando salário para os melhores colocados no vestibular. Outras usam o histórico escolar como critério para seleção ou deixam de cobrar taxas de inscrição.
Um dos casos mais inusitados é o da Uniban (Universidade Bandeirantes de São Paulo). Ela está aceitando o rascunho do cartão de respostas do aluno na Fuvest como prova de sua pontuação no concurso e creditando os pontos em seu próprio exame, a ser realizado no dia 29 deste mês.
Esse critério adotado pela Uniban "causa estranheza" em alguns membros do CNE. "Isso não é um documento oficial, portanto, considero que não tem a menor validade. O aluno pode até levá-lo para casa sem preencher", afirma Serpa.
O supervisor do vestibular da Fuvest José Coelho Sobrinho afirma que, para a coordenação do concurso, o documento não tem validade.
A Universidade Metodista de São Paulo e a Estácio de Sá estão substituindo parcialmente ou integralmente o vestibular por uma análise do histórico escolar de cada aluno em alguns processos seletivos.
"Isso não pode. Os históricos são incomparáveis. O professor que avaliou um aluno em uma escola pode ter usado critérios diferentes dos de outro que dá aula para a turma vizinha", afirma o conselheiro do CNE (Conselho Nacional de Educação) Carlos Alberto Serpa, que foi um dos relatores do parecer 98/99 do Conselho, que regulamenta os processos seletivos das universidades.
A chefe de gabinete da Secretaria de Ensino Superior do MEC, Elvira Mello, afirma que um aluno que se sentir prejudicado por esse critério pode entrar na Justiça contra a universidade. "A análise dos históricos escolares não segue as normas do Conselho Nacional de Educação por ferir o princípio constitucional da igualdade de condições no acesso à universidade", diz Elvira.
Ela afirma também que, neste ano, o MEC vai fiscalizar os casos em que fique claro o abuso e encaminhá-los ao CNE, onde uma sindicância será aberta e, em último caso, o processo seletivo pode até ser anulado.
Desde a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em 1996, a estratégia de usar a análise de históricos escolares é bastante comum entre instituições particulares. No ano passado, no entanto, o CNE aprovou um parecer questionando essa medida.
Outra estratégia muito utilizada pelas universidades particulares é isentar os alunos de taxa de inscrição no vestibular. A UniverCidade, no Rio de Janeiro, realiza testes gratuitos todos os sábados, até o início do ano letivo, além de oferecer bolsas de estudos integrais aos estudantes que conseguiram acertar mais de 90% das questões do Enem. Em São Paulo, a Universidade São Judas também não está cobrando a inscrição no seu vestibular.
Para o presidente do Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior do Estado de São Paulo), Gabriel Rodrigues, "a lei permite que cada instituição utilize o processo que considerar adequado. Existem algumas mais rigorosas, mas também há aquelas que facilitam o ingresso para preencher as vagas".
O excesso de oferta pode ser a causa da proliferação das seleções alternativas. Em 98, por exemplo, de um total de 570.306 vagas oferecidas no ensino superior em todo o país, sobraram 20% (115.318), segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).
Na Universidade Metodista, estão sendo oferecidas com o novo critério 556 de um total de 3.390 vagas. Na Uniban, o sistema alternativo está sendo usado para 30% das vagas. A Estácio de Sá não divulgou qual o número de vagas remanescentes.


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