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São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 2003

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URBANISMO

Comparação entre os censos de 1980 e 2000 indica que bairros vizinhos a Cumbica receberam 198,4 mil moradores

População cresce 150% ao redor de aeroporto

SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O número de moradores vizinhos ao Aeroporto Internacional André Franco Montoro, em Cumbica, zona leste de Guarulhos, cresceu 150% desde o seu surgimento, nos anos 80. O preço baixo e a oferta de terrenos na região, bem-servida de indústrias, além de aviões, atraíram moradores principalmente de São Paulo, segundo a prefeitura.
Os sete bairros do entorno, conforme a comparação entre os censos de 1980 e 2000, ganharam 198.465 novos habitantes -passando de 127.372 para 325.837. Se toda a população de São Carlos, no interior do Estado, resolvesse se mudar para o local, faltariam mais de 5.000 pessoas para completar o novo contingente.
O aumento nessa região supera o do município que, no mesmo período, cresceu 101%. Passou de 532.726 habitantes para 1.072.717.
Barulho excessivo, isolamento, poluição e transporte público precário são as reclamações comuns dos vizinhos do aeroporto. Um exemplo de incômodo é o avião cargueiro -carregador de contêineres, e, por isso, dotado de turbinas mais potentes e barulhentas- que decola diariamente às 4h, apesar dos protestos.
A política da Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária), responsável pelos aeroportos, consistia em ignorar a vizinhança, postura que começou a ser mudada nos últimos anos.
Até porque o aumento dessa população obrigou uma observação mais atenta das autoridades aeronáuticas. O lixo doméstico atrai urubus, um risco à aviação, por exemplo. As pipas também interferem no tráfego aéreo.
Um dos investimentos da administração do aeroporto foi a criação de um programa de educação ambiental para cuidar da questão do lixo com os moradores. Outro foi a procura de espaço na região para construir um "pipódromo".
Porém o maior aeroporto da América Latina, que transportou 13 milhões de passageiros em 2001, isola com jardins e belas avenidas bairros como São João, que possui 82% de sua população entre as classes C e D, segundo o Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Desequilíbrio
Há dois anos no cargo, o prefeito Elói Pietá (PT) tenta reverter a relação "desequilibrada" entre o município e a Infraero, estatal ligada ao Ministério da Defesa.
O aeroporto, diz a prefeitura, ocupa 12% do território urbanizado da cidade e nunca pagou impostos. Mas o local é apenas um dos vários problemas da cidade, que, segundo o último Censo, ultrapassou 1 milhão de habitantes, superando Campinas como a segunda mais populosa do Estado.
Com dados do Censo, a urbanista e secretária-adjunta de Planejamento de Guarulhos, Eulália Portela, concluiu que a cidade cresce rumo ao leste (aeroporto) e ao norte (serra da Cantareira), regiões precárias de infra-estrutura e que sofrem com a poluição ambiental e sonora pelos aviões, caminhões e indústrias.
O dado preocupa os técnicos porque o município de Guarulhos cresce na velocidade de 2,5% ao ano, enquanto a capital, a 0,8%.
"Mas nem nós nem a população pensou em restringir esses equipamentos", diz a urbanista. "O que pensamos é em transformar essas regiões em imensas zonas mistas, nas quais todo fator de incômodo deverá ser negociado."
Com equipamentos mais modernos, segundo ela, o ruído dos aviões poderia ser reduzido. "Os horários de pouso e decolagem também influem, como no caso do cargueiro", diz.
O futuro Plano Diretor deverá consolidar uma das propostas da prefeitura: realizar uma operação urbana em Cumbica, regularizando as moradias clandestinas e atraindo mais empresas.
Segundo Eulália, metade da população da cidade vive em loteamentos irregulares ou em 320 favelas -situação predominante no aeroporto. Enquanto isso, dos 300 mil imóveis cadastrados na prefeitura em 2000, 57 mil (ou 20%) estavam vagos.


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