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URBANISMO
Comparação entre os censos de 1980 e 2000 indica que bairros vizinhos a Cumbica receberam 198,4 mil moradores
População cresce 150% ao redor de aeroporto
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O número de moradores vizinhos ao Aeroporto Internacional
André Franco Montoro, em
Cumbica, zona leste de Guarulhos, cresceu 150% desde o seu
surgimento, nos anos 80. O preço
baixo e a oferta de terrenos na região, bem-servida de indústrias,
além de aviões, atraíram moradores principalmente de São Paulo,
segundo a prefeitura.
Os sete bairros do entorno, conforme a comparação entre os censos de 1980 e 2000, ganharam
198.465 novos habitantes -passando de 127.372 para 325.837. Se
toda a população de São Carlos,
no interior do Estado, resolvesse
se mudar para o local, faltariam
mais de 5.000 pessoas para completar o novo contingente.
O aumento nessa região supera
o do município que, no mesmo
período, cresceu 101%. Passou de
532.726 habitantes para 1.072.717.
Barulho excessivo, isolamento,
poluição e transporte público precário são as reclamações comuns
dos vizinhos do aeroporto. Um
exemplo de incômodo é o avião
cargueiro -carregador de contêineres, e, por isso, dotado de
turbinas mais potentes e barulhentas- que decola diariamente
às 4h, apesar dos protestos.
A política da Infraero (Empresa
Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária), responsável pelos
aeroportos, consistia em ignorar a
vizinhança, postura que começou
a ser mudada nos últimos anos.
Até porque o aumento dessa
população obrigou uma observação mais atenta das autoridades
aeronáuticas. O lixo doméstico
atrai urubus, um risco à aviação,
por exemplo. As pipas também
interferem no tráfego aéreo.
Um dos investimentos da administração do aeroporto foi a criação de um programa de educação
ambiental para cuidar da questão
do lixo com os moradores. Outro
foi a procura de espaço na região
para construir um "pipódromo".
Porém o maior aeroporto da
América Latina, que transportou
13 milhões de passageiros em
2001, isola com jardins e belas
avenidas bairros como São João,
que possui 82% de sua população
entre as classes C e D, segundo o
Censo 2000 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE).
Desequilíbrio
Há dois anos no cargo, o prefeito Elói Pietá (PT) tenta reverter a
relação "desequilibrada" entre o
município e a Infraero, estatal ligada ao Ministério da Defesa.
O aeroporto, diz a prefeitura,
ocupa 12% do território urbanizado da cidade e nunca pagou impostos. Mas o local é apenas um
dos vários problemas da cidade,
que, segundo o último Censo, ultrapassou 1 milhão de habitantes,
superando Campinas como a segunda mais populosa do Estado.
Com dados do Censo, a urbanista e secretária-adjunta de Planejamento de Guarulhos, Eulália
Portela, concluiu que a cidade
cresce rumo ao leste (aeroporto) e
ao norte (serra da Cantareira), regiões precárias de infra-estrutura
e que sofrem com a poluição ambiental e sonora pelos aviões, caminhões e indústrias.
O dado preocupa os técnicos
porque o município de Guarulhos
cresce na velocidade de 2,5% ao
ano, enquanto a capital, a 0,8%.
"Mas nem nós nem a população
pensou em restringir esses equipamentos", diz a urbanista. "O
que pensamos é em transformar
essas regiões em imensas zonas
mistas, nas quais todo fator de incômodo deverá ser negociado."
Com equipamentos mais modernos, segundo ela, o ruído dos
aviões poderia ser reduzido. "Os
horários de pouso e decolagem
também influem, como no caso
do cargueiro", diz.
O futuro Plano Diretor deverá
consolidar uma das propostas da
prefeitura: realizar uma operação
urbana em Cumbica, regularizando as moradias clandestinas e
atraindo mais empresas.
Segundo Eulália, metade da população da cidade vive em loteamentos irregulares ou em 320 favelas -situação predominante
no aeroporto. Enquanto isso, dos
300 mil imóveis cadastrados na
prefeitura em 2000, 57 mil (ou
20%) estavam vagos.
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