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São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 2003

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Morador se adapta a aviões

DA REPORTAGEM LOCAL

O funcionário público Luiz Carlos Amaro da Silva, 33, acredita que as locadoras de vídeo são o negócio mais rentável do bairro Presidente Dutra, localizado na cabeceira do aeroporto de Cumbica. Segundo ele, que vive na região, onde nasceu, isso ocorre por causa do barulho.
"Perdi a conta de quantos filmes da TV, que, na cena final, passava um avião e eu não conseguia entender nada. O jeito era a locadora", conta Amaro, que brincou nas obras do aeroporto de Cumbica quando era criança.
Ser vizinho dos aviões, para ele, é um estilo de vida. "É preciso avisar as visitas sobre o avião cargueiro. O barulho é tão grande que elas pensam que está caindo."
No bairro de Presidente Dutra, conta o funcionário público, é assim: as pessoas só batem papo no telefone antes das 20h ou depois das 23h. Nesse horário, o esquema de pouso muda para a pista próxima do bairro. "Daí não se ouve mais nada", diz.
Apesar do incômodo, é difícil encontrar na região quem não seja fascinado pelos aviões. Crianças ou adultos conhecem modelos e normas técnicas de cor.
O bar Paraíso dos Aviões, no Jardim Cumbica, é um exemplo. Localizado em um ponto elevado do bairro, o estabelecimento tem visão privilegiada das pistas de pouso e decolagem. "No domingo, você vê muita gente, geralmente pais e filhos, vendo os aviões dali", conta Amaro.
Até dois anos atrás, os moradores do Parque Cecap -um conjunto habitacional com 13.750 habitantes, de acordo com os dados do Censo 2001- costumavam fazer cooper na avenida Hélio Smidt, que dá acesso ao aeroporto. A prática esportiva, porém, foi proibida pela Infraero.
Da juventude, o funcionário público guarda a história do loteamento clandestino dos bairros vizinhos, patrocinado por políticos e imobiliárias da cidade.
"Na verdade, sempre foi um bom negócio vender terreno aqui. Quando surgiu o aeroporto, havia uma expectativa enorme nas pessoas de que os aviões iriam trazer muita prosperidade para cá, o que não aconteceu", diz Amaro.
Problemas como o de loteamentos irregulares, de acordo com a prefeitura, estão sendo discutidos por 50 grupos, formados por associações e entidades de Guarulhos. As discussões fazem parte do processo de elaboração do Plano Diretor, ainda em fase preliminar.


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