DA SUCURSAL DO RIO

Os moradores dos motéis invadidos na via Dutra são obrigados a obedecer um código de conduta. Música alta de noite, brigas com vizinhos e parentes, consumo de drogas nos apartamentos e bebedeiras nos corredores dos prédios fazem parte dos pontos proibidos pela cartilha informal.
"Temos que zelar pelo nosso lugar. Não podemos viver numa loucura. Quem não respeita vai para a rua", disse Magda Guimarães, uma das moradores do extinto Nosso Hotel.
"Se não colocássemos algumas regras, isso aqui seria um verdadeiro baile funk. O batidão toca quase o dia inteiro nos apartamentos da molecada mais nova", acrescentou Guimarães.
Apesar de a luz ter sido cortada, alguns moradores conseguiram "puxar um gato" (ligação clandestina) para os quartos.
Na sexta-feira, um antiga moradora tentava pedir ao "síndico" do prédio permissão para voltar, mas não teve sucesso. A mulher de cerca de 60 anos foi expulsa por brigar muito com os filhos.
No antigo Motel Puebla, que virou um "condomínio" administrado pelo dono do prédio, crianças também são proibidas. "O prédio não oferece segurança para elas. Para evitar qualquer problema no futuro, decidimos impor essa condição. Crianças aqui só para visitar os parentes", disse Júlio César dos Santos, que é o zelador do edifício. "Isto é muito bom. Gerente de banco, sargento da Marinha e muita gente honesta vive aqui", afirmou Santos, que fez questão de mostrar que alguns moradores tinham até carros.
A invasão desses motéis e a mudança de perfil de outros na cidade é um "fenômeno urbano comum" nas grandes cidades, segundo Gênesis Pereira Torres, subsecretário de Cultura de São João de Meriti.
"O desemprego é grande e sabemos que as pessoas não têm dinheiro para pagar aluguel. O chato para o município é que deixamos de arrecadar com o IPTU, que é uma de nossas fontes de renda", disse Torres. Ele lembrou que a prefeitura tinha um projeto de construir uma creche no antigo Nosso Hotel, um dos edifícios invadidos, mas foi surpreendida pelos ocupantes. "Agora, vai ser difícil tirá-los de lá."


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