São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

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'Até a alma eu perdi um pouco'

DA SUCURSAL DO RIO

Leia a seguir o depoimento do ex-usuário de crack ‘‘X’’, 45, atendido pelo Conselho Estadual Anti-Drogas do Rio de Janeiro.
"O crack é mais forte do que a cocaína. A pancada é mais forte. Vai direto e a gente fica doidão, loucão mesmo. Fica alucinado, querendo mais, mais. Se tiver que matar, você mata. Se tiver que assaltar, assalta. Depois que você usa, a depressão é bem maior. O pânico é maior. Por causa do crack, cheguei a roubar supermercado. A primeira vez que usei crack foi em agosto do ano passado, em Belo Horizonte. Lá, eu conheci uma prostituta. Conversamos e tomamos cerveja. Perguntei se rolava cocaína. Ela disse que cocaína estava difícil, o que rolava era crack. Compramos dez pedras. Foi a primeira vez que experimentei a droga. Antes, era só cocaína. A cocaína dá uma onda. O crack, dá uma onda mil vezes maior, tira você da realidade. O que você tiver de dinheiro, vai. Se tiver R$ 5.000, se tiver R$ 10 mil, vai gastar todo o dinheiro.
Só no primeiro dia que usei crack, gastei R$ 400. Eu comprei logo dez pedras de uma vez.
Voltei para o Rio. Mas aqui é difícil ter crack. Então, fui a Belo Horizonte e usei mais crack. Lá, a cocaína é mais cara. A pedra de crack custa R$ 10, e a cocaína, R$ 15. A droga destrói tudo, é um veneno. Perdi muita coisa, moral, caráter, só não perdi a vida. Até a alma perdi um pouco."


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