São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2000


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Escolas temem desfile repetitivo

MÁRIO MOREIRA
da Sucursal do Rio

As 14 escolas de samba do Grupo Especial do Rio enfrentam este ano um desafio em comum: abordar a história do Brasil -tradicionalmente uma das maiores fontes de inspiração dos enredos de Carnaval- sem cair na repetição e no déjà vu.
Com um desfile monotemático, calcado nos 500 anos do país, cada agremiação pôde escolher, entre 21 temas históricos sugeridos pela Liga Independente das Escolas de Samba, aquele que desejava apresentar.
Alguns carnavalescos, porém,revelam preocupação com possíveis repetições temáticas. Para outros, trata-se apenas de evitar fórmulas já testadas.
"Não vou criar uma visão nova do Descobrimento a esta altura do campeonato", afirma a carnavalesca Rosa Magalhães, da Imperatriz Leopoldinense, cujo enredo enfoca a chegada dos portugueses ao Brasil em 1500.
"Não me preocupo se o enredo já foi feito ou não", diz Mauro Quintaes, do Salgueiro, que vai contar a passagem do Brasil-colônia a Reino Unido ao de Portugal -período retratado diversas vezes em outros Carnavais.
O carnavalesco da Grande Rio, Max Lopes, acredita que o desfile deste ano pode ficar "entediante", pela sucessão de temas históricos. Em seu próprio enredo, ele tentará narrar os principais episódios da história do país do ponto de vista da reação popular.
"Vou mostrar que todos os grandes momentos políticos do Brasil acabaram em festa", diz.
Outro que diz ter encontrado uma forma original de falar do Brasil é Renato Lage, da Mocidade Independente. Ele foi o único a desprezar inteiramente a idéia de um enredo histórico: usará as cores da bandeira nacional para exaltar o país.
"Vai ser muito sacal o desfile calcado nos 500 anos. Vamos assistir a um festival de caravelas", diz. "Nós viremos na contramão."
Na Beija-Flor, a comissão de cinco carnavalescos preferiu exibir uma versão mítica da formação do povo brasileiro. "É uma visão onírica da história. A gente gosta de coisa nova", alfineta Carlos Fernandes, o Shangai.
Outros temas já batidos ganharão abordagens aparentemente novas. Na Mangueira, a saga dos negros será simbolizada pela história de um deles, d. Obá 2º.
José Felix, da Portela, que retratará Getúlio Vargas, acredita que dará uma roupagem nova ao tema. "O enfoque do enredo não é laudatório, é imparcial. Vou falar das realizações, mas também da censura, da repressão."
Esses aspectos também estarão presentes no desfile da União da Ilha, sobre a resistência cultural ao regime militar (1964-85).
No meio do tiroteio, Joãosinho Trinta, da Viradouro, garante que seu enredo ("Brasil: Visões de Paraísos e Infernos") abarcará os demais. "Tudo que passar antes estará presente na Viradouro, como paraíso ou inferno."



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