São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2005

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ROTA EUROPÉIA

Servidora do Ministério Público da União é acusada de fazer parte de quadrilha que recruta jovens de classe média

PF investiga "playboys" do tráfico de ecstasy

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal investiga em São Paulo a distribuição de um carregamento de até mil comprimidos de ecstasy que teriam sido trazidos da Holanda, na última segunda-feira, por uma servidora do Ministério Público da União.
Sandra Gorayeb é acusada de integrar uma quadrilha que recrutava jovens de classe média, poliglotas e até mesmo esportistas radicais como "mulas" (nome de quem transporta drogas), para levar cocaína ao exterior, onde o produto era trocado por drogas sintéticas.
O próprio surfista brasileiro Rodrigo Gularte, 32, condenado à morte por fuzilamento pela Justiça da Indonésia no começo deste mês, faria parte da quadrilha, segundo a polícia.
Sandra Gorayeb foi presa terça à noite no aeroporto de Brasília. Trazia na bagagem 2,4 quilos de skank, 800 gramas de haxixe e 46 gramas de MDMA, o princípio ativo do ecstasy.
Conforme a investigação, conduzida pela Polícia Civil do Distrito Federal em parceria com a PF, ela também traria os comprimidos de ecstasy.
Segundo o delegado Miguel Lucena, chefe da comunicação social da Polícia Civil do Distrito Federal, ao parar em São Paulo, rumo à Brasília, Gorayeb pode ter repassado os comprimidos de ecstasy a um intermediário.
A quadrilha teria nove integrantes no Brasil, dos quais sete foram presos na chamada "Operação Playboy". O último deles foi detido na quarta-feira no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. O carioca Dimitrius Papageorgiou, 36, vinha de Paris.
Conforme a investigação, iniciada em 2003, o chefe da organização seria Michelli Tocci, 31, que está foragido. Em Brasília, Tocci, principalmente com a ajuda de Ricardo Piquet Carneiro, também preso na capital federal, recrutava as "mulas", segundo a polícia.
De classe média e com fluência em vários idiomas, as "mulas" ganhavam 2.000 euros (cerca de R$ 6.700) por quilo de cocaína transportada, além de hospedagem, alimentação e transporte.
A quadrilha movimentaria R$ 500 mil por mês com a venda do ecstasy trazidos da Holanda. Em Brasília, segundo indícios surgidos na investigação, o chefe, Michelli, usaria empresas -entre as quais um restaurante- para esquentar o dinheiro ilegal.
Organizado, o grupo usava a suíte de um hotel em Brasília para fazer reuniões e contava com uma ponte na Holanda. Baseado em Amsterdã, esse interlocutor, chamado de "Cabeludo", coordenava a troca da cocaína levada do Brasil pelas drogas sintéticas trazidas da Europa. A Interpol foi acionada para prender "Cabeludo".
A PF prendeu os supostos traficantes nesta semana. Para o delegado Lucena, as investigações reuniram elementos suficientes para conseguir a condenação de todos eles pelo crime de associação para o tráfico, cuja pena prevista, em regime integralmente fechado, pode chegar a dez anos.
Além de Gorayeb, Carneiro e Papageorgiou, foram presos Augusto César, em Florianópolis, Marco Antônio Gorayeb, em Fernando de Noronha, Marcelo Maghenzani, em São Paulo, Leandro Caetano e Wladimir Bilotta na capital federal.
A Folha não conseguiu ontem localizar os advogados das pessoas acusadas.
Transportado para a capital federal, Marco Antônio Gorayeb seria ouvido na noite de sábado pelo delegado Jairo Cícero, diretor da Divisão de Combate ao Crime Organizado da Polícia Civil do DF. Em seus depoimentos, os demais acusados não forneceram, por ora, informações relevantes para a investigação.

No exterior
Condenado à morte na Indonésia, o brasileiro Rodrigo Gularte, 32, foi preso no dia 31 de julho do ano passado, no aeroporto de Jacarta, acusado de transportar 6 kg de cocaína escondidos em pranchas de surfe.
Na ocasião, o surfista, que morava em Florianópolis (SC), assumiu a responsabilidade pela droga. O réu tem duas chances para tentar rever o julgamento, recorrendo em duas instâncias, processo que chega a durar dois anos.
Por situação parecida passa o instrutor de vôo livre carioca Marco Archer Cardoso Moreira. Ele também foi condenado à morte pela Justiça da Indonésia, em primeira instância.
Moreira foi preso em agosto de 2003 ao tentar entrar no país com 13,4 kg de cocaína.

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