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ROTA EUROPÉIA
Servidora do Ministério Público da União é acusada de fazer parte de quadrilha que recruta jovens de classe média
PF investiga "playboys" do tráfico de ecstasy
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal investiga em
São Paulo a distribuição de um
carregamento de até mil comprimidos de ecstasy que teriam sido
trazidos da Holanda, na última
segunda-feira, por uma servidora
do Ministério Público da União.
Sandra Gorayeb é acusada de
integrar uma quadrilha que recrutava jovens de classe média,
poliglotas e até mesmo esportistas
radicais como "mulas" (nome de
quem transporta drogas), para levar cocaína ao exterior, onde o
produto era trocado por drogas
sintéticas.
O próprio surfista brasileiro Rodrigo Gularte, 32, condenado à
morte por fuzilamento pela Justiça da Indonésia no começo deste
mês, faria parte da quadrilha, segundo a polícia.
Sandra Gorayeb foi presa terça à
noite no aeroporto de Brasília.
Trazia na bagagem 2,4 quilos de
skank, 800 gramas de haxixe e 46
gramas de MDMA, o princípio
ativo do ecstasy.
Conforme a investigação, conduzida pela Polícia Civil do Distrito Federal em parceria com a PF,
ela também traria os comprimidos de ecstasy.
Segundo o delegado Miguel Lucena, chefe da comunicação social
da Polícia Civil do Distrito Federal, ao parar em São Paulo, rumo à
Brasília, Gorayeb pode ter repassado os comprimidos de ecstasy a
um intermediário.
A quadrilha teria nove integrantes no Brasil, dos quais sete foram
presos na chamada "Operação
Playboy". O último deles foi detido na quarta-feira no aeroporto
de Guarulhos, em São Paulo. O
carioca Dimitrius Papageorgiou,
36, vinha de Paris.
Conforme a investigação, iniciada em 2003, o chefe da organização seria Michelli Tocci, 31, que
está foragido. Em Brasília, Tocci,
principalmente com a ajuda de
Ricardo Piquet Carneiro, também
preso na capital federal, recrutava
as "mulas", segundo a polícia.
De classe média e com fluência
em vários idiomas, as "mulas" ganhavam 2.000 euros (cerca de R$
6.700) por quilo de cocaína transportada, além de hospedagem,
alimentação e transporte.
A quadrilha movimentaria R$
500 mil por mês com a venda do
ecstasy trazidos da Holanda. Em
Brasília, segundo indícios surgidos na investigação, o chefe, Michelli, usaria empresas -entre as
quais um restaurante- para esquentar o dinheiro ilegal.
Organizado, o grupo usava a
suíte de um hotel em Brasília para
fazer reuniões e contava com uma
ponte na Holanda. Baseado em
Amsterdã, esse interlocutor, chamado de "Cabeludo", coordenava
a troca da cocaína levada do Brasil
pelas drogas sintéticas trazidas da
Europa. A Interpol foi acionada
para prender "Cabeludo".
A PF prendeu os supostos traficantes nesta semana. Para o delegado Lucena, as investigações
reuniram elementos suficientes
para conseguir a condenação de
todos eles pelo crime de associação para o tráfico, cuja pena prevista, em regime integralmente fechado, pode chegar a dez anos.
Além de Gorayeb, Carneiro e
Papageorgiou, foram presos Augusto César, em Florianópolis,
Marco Antônio Gorayeb, em Fernando de Noronha, Marcelo Maghenzani, em São Paulo, Leandro
Caetano e Wladimir Bilotta na capital federal.
A Folha não conseguiu ontem
localizar os advogados das pessoas acusadas.
Transportado para a capital federal, Marco Antônio Gorayeb seria ouvido na noite de sábado pelo
delegado Jairo Cícero, diretor da
Divisão de Combate ao Crime Organizado da Polícia Civil do DF.
Em seus depoimentos, os demais
acusados não forneceram, por
ora, informações relevantes para
a investigação.
No exterior
Condenado à morte na Indonésia, o brasileiro Rodrigo Gularte,
32, foi preso no dia 31 de julho do
ano passado, no aeroporto de Jacarta, acusado de transportar 6 kg
de cocaína escondidos em pranchas de surfe.
Na ocasião, o surfista, que morava em Florianópolis (SC), assumiu a responsabilidade pela droga. O réu tem duas chances para
tentar rever o julgamento, recorrendo em duas instâncias, processo que chega a durar dois anos.
Por situação parecida passa o
instrutor de vôo livre carioca
Marco Archer Cardoso Moreira.
Ele também foi condenado à
morte pela Justiça da Indonésia,
em primeira instância.
Moreira foi preso em agosto de
2003 ao tentar entrar no país com
13,4 kg de cocaína.
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