RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO

A atividade dos bicheiros também mudou na tela da TV. Giovanni Improtta, personagem de José Wilker em "Senhora do Destino", da TV Globo, anda por aí alardeando sua condição de "ex-bicheiro", tem capangas e poder semelhantes ao dos contraventores, mas é diferente do retrato que a ficção antes dava a seus ex-colegas, segundo pesquisadoras.
Maria de Lourdes Motter e Renata Pallottini, professoras da USP, dizem que Giovanni é mais frágil e simpático que antigos bicheiros. Não é despótico nem cruel e, embora carente de etiqueta, é delicado, não grosseiro.
Como os contraventores em suas "comunidades", Giovanni é um "pai" para seus protegidos, o que poderia, para os críticos, reforçar a idéia de que não vale a pena para os mais pobres recorrer ao Estado e às vias institucionais para resolver seus problemas.
Pallottini afirma que isso nada mais é do que o realismo que se espera de uma obra desse gênero. "Na verdade, ele está preenchendo um espaço vago que seria o da autoridade constituída. Está acusando a autoridade de inoperante, o que é real", ela diz.
O autor da novela, Aguinaldo Silva, insiste que Giovanni é um homem regenerado. Repete expressões do ex-bicheiro para dizer que ele "não deve mais nada à polícia ou ao fisco" e que os críticos que vêm uma suposta apologia da contravenção e do personalismo no personagem perderam a viagem. "É gente que gosta de procurar cabelo em ovo."
"Não é a novela que vai procurar provar isso ou aquilo. Não me importei com a ausência ou a presença do Estado. A novela não é uma obra política."
Ele vê uma diferença marcante entre seu atual personagem e bicheiros das novelas do passado. "A figura dos bicheiros era sempre caricatural -sinistra, mas engraçada", diz. Giovanni, por outro lado, "não é caricatural" e "representa muito bem essa figura meio vaga que é o brasileiro".
"Ele não matou ninguém, não roubou ninguém. Teve momentos de grande generosidade, é um pai fantástico e um ótimo amante -espera por aquela mulher [a personagem que dá título à novela] há 30 anos."

Texto Anterior: Carnaval sob suspeita: Patronos de escolas de samba são réus no Rio
Próximo Texto: Neste ano, grupo faturou R$ 70 mi
Índice