São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2005

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SAÚDE

Terapia para a mulher, que é recomendada pela Organização Mundial da Saúde, ainda sofre resistência da classe médica

Vitamina B9 evita defeito neural em feto

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Toda mulher que deseja engravidar deve usar ácido fólico antes e durante a gestação para diminuir os riscos de ter um filho com defeitos do tubo neural (DTNs). A recomendação é da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da Febrasgo (federação que reúne as sociedades de ginecologia e obstetrícia do país), mas nem sempre é seguida pelos médicos.
No Brasil, pesquisas indicam que uma a cada 800 crianças nascem com os DTNs. Os mais comuns são anencefalia (sem cérebro), que leva o bebê à morte poucas horas após o nascimento, e a espinha bífida (aberta), que causa paralisia e perda do controle das funções do intestino e da bexiga.
A despeito de vários estudos internacionais demonstrarem que o ácido fólico (vitamina B9), também conhecido por folato, reduz em até 80% os riscos de o bebê apresentar esses problemas, muitos profissionais entendem que uma mulher saudável não necessita da suplementação vitamínica e deixam de orientar suas pacientes sobre isso.
Exemplo dessa desinformação é uma pesquisa feita no ano passado pelo hospital estadual Mário Covas, ligado à Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André. Cem grávidas foram entrevistadas aleatoriamente e, quando questionadas sobre a utilização do ácido fólico, 91 disseram que não haviam tomado a folato.
As outras nove gestantes relataram que a ingestão da vitamina ocorrera depois de dois meses da concepção, quando o folato já não é mais eficaz para a prevenção dos defeitos do tubo neural.
O diretor clínico do hospital, Milton Borreli, afirma que as grávidas entrevistadas relataram desconhecimento ou gravidez inesperada como justificativa para o não uso do ácido fólico. A medicação é distribuída na rede SUS.
Para o presidente da Febrasgo, Edmundo Chada Baracat, independentemente das convicções pessoais, os ginecologistas e obstetras precisam orientar suas pacientes sobre a importância do ácido fólico e prescrevê-lo assim que a mulher interromper os métodos contraceptivos.
A Organização Mundial da Saúde preconiza dose mínima diária de 0,4 mg de ácido fólico para o fechamento de tubo neural. Segundo o professor da USP Victor Bunduki, responsável pelo setor de medicina fetal do Hospital das Clínicas de São Paulo, é arriscado tomar o folato só após o resultado do teste de gravidez. "Corre-se o risco de o defeito no tubo neural já estar instalado", explica.
Bunduki afirma que o ideal é que a mulher continue com a vitamina até o terceiro mês de gestação. Porém, ele lembra que 20% dos casos estão associados a fatores genéticos, situações em que não é possível a prevenção.
O ácido fólico é uma vitamina que pode ser encontrada em muitos alimentos, mas estudos demonstram que a ingestão dela apenas na dieta alimentar pode não reduzir os riscos de defeitos.
Desde o ano passado, por determinação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), as farinhas de trigo e de milho também contêm o folato. Ainda assim, por precaução, os médicos recomendam a suplementação da vitamina para mulheres que pretendem engravidar.
No mercado, ela é vendida em doses de 2 mg e 5 mg. De acordo com o gastroenterologista Dan Waitzberg, professor da Faculdade de Medicina da USP, por se tratar de uma vitamina hidrossolúvel, o excesso de ácido fólico é eliminado pela urina. Mesmo em altas doses, não há estudos que demonstrem efeitos tóxicos à mulher ou ao bebê.
Ele alerta, porém, que as mulheres precisam ter cuidado com os complexos multivitamínicos usados durante a gestação e só usá-los com orientação médica. "A superdosagem de vitamina A, por exemplo, pode causar malformações fetais", diz.
A produtora Carin Kulb, 33, tomou ácido fólico antes e durante a gravidez dos dois filhos. A partir do 3º mês de gestação, fez uso dos complexos vitamínicos por indicação da ginecologista. "Nunca descuidei. É um risco que não dá para correr", afirma.
O folato também pode ser útil na prevenção de má-formações do trato geniturinário, problemas cardíacos e síndrome de Down.

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