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SAÚDE
Terapia para a mulher, que é recomendada pela Organização Mundial da Saúde, ainda sofre resistência da classe médica
Vitamina B9 evita defeito neural em feto
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Toda mulher que deseja engravidar deve usar ácido fólico antes
e durante a gestação para diminuir os riscos de ter um filho com
defeitos do tubo neural (DTNs). A
recomendação é da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da
Febrasgo (federação que reúne as
sociedades de ginecologia e obstetrícia do país), mas nem sempre é
seguida pelos médicos.
No Brasil, pesquisas indicam
que uma a cada 800 crianças nascem com os DTNs. Os mais comuns são anencefalia (sem cérebro), que leva o bebê à morte poucas horas após o nascimento, e a
espinha bífida (aberta), que causa
paralisia e perda do controle das
funções do intestino e da bexiga.
A despeito de vários estudos internacionais demonstrarem que o
ácido fólico (vitamina B9), também conhecido por folato, reduz
em até 80% os riscos de o bebê
apresentar esses problemas, muitos profissionais entendem que
uma mulher saudável não necessita da suplementação vitamínica
e deixam de orientar suas pacientes sobre isso.
Exemplo dessa desinformação é
uma pesquisa feita no ano passado pelo hospital estadual Mário
Covas, ligado à Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André.
Cem grávidas foram entrevistadas aleatoriamente e, quando
questionadas sobre a utilização
do ácido fólico, 91 disseram que
não haviam tomado a folato.
As outras nove gestantes relataram que a ingestão da vitamina
ocorrera depois de dois meses da
concepção, quando o folato já não
é mais eficaz para a prevenção dos
defeitos do tubo neural.
O diretor clínico do hospital,
Milton Borreli, afirma que as grávidas entrevistadas relataram desconhecimento ou gravidez inesperada como justificativa para o
não uso do ácido fólico. A medicação é distribuída na rede SUS.
Para o presidente da Febrasgo,
Edmundo Chada Baracat, independentemente das convicções
pessoais, os ginecologistas e obstetras precisam orientar suas pacientes sobre a importância do
ácido fólico e prescrevê-lo assim
que a mulher interromper os métodos contraceptivos.
A Organização Mundial da Saúde preconiza dose mínima diária
de 0,4 mg de ácido fólico para o fechamento de tubo neural. Segundo o professor da USP Victor
Bunduki, responsável pelo setor
de medicina fetal do Hospital das
Clínicas de São Paulo, é arriscado
tomar o folato só após o resultado
do teste de gravidez. "Corre-se o
risco de o defeito no tubo neural
já estar instalado", explica.
Bunduki afirma que o ideal é
que a mulher continue com a vitamina até o terceiro mês de gestação. Porém, ele lembra que 20%
dos casos estão associados a fatores genéticos, situações em que
não é possível a prevenção.
O ácido fólico é uma vitamina
que pode ser encontrada em muitos alimentos, mas estudos demonstram que a ingestão dela
apenas na dieta alimentar pode
não reduzir os riscos de defeitos.
Desde o ano passado, por determinação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), as
farinhas de trigo e de milho também contêm o folato. Ainda assim, por precaução, os médicos
recomendam a suplementação da
vitamina para mulheres que pretendem engravidar.
No mercado, ela é vendida em
doses de 2 mg e 5 mg. De acordo
com o gastroenterologista Dan
Waitzberg, professor da Faculdade de Medicina da USP, por se tratar de uma vitamina hidrossolúvel, o excesso de ácido fólico é eliminado pela urina. Mesmo em altas doses, não há estudos que demonstrem efeitos tóxicos à mulher ou ao bebê.
Ele alerta, porém, que as mulheres precisam ter cuidado com os
complexos multivitamínicos usados durante a gestação e só usá-los com orientação médica. "A
superdosagem de vitamina A, por
exemplo, pode causar malformações fetais", diz.
A produtora Carin Kulb, 33, tomou ácido fólico antes e durante a
gravidez dos dois filhos. A partir
do 3º mês de gestação, fez uso dos
complexos vitamínicos por indicação da ginecologista. "Nunca
descuidei. É um risco que não dá
para correr", afirma.
O folato também pode ser útil
na prevenção de má-formações
do trato geniturinário, problemas
cardíacos e síndrome de Down.
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