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ENCRUZILHADA
Pesquisa em regiões metropolitanas aponta dificuldade dos brasileiros entre 15 e 24 anos de encontrar atividade
27% dos jovens não trabalham nem estudam
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Leandro Magalhães, 15, encontrou só portas fechadas ao concluir o ensino fundamental. De um lado, tentou prosseguir nos
estudos. "Não sei direito o que
aconteceu, mas a diretora disse
que não tinha mais vaga." De outro, arriscou-se no mercado de
trabalho. "Mas dizem que sou
muito novo e sem experiência."
Sem estudar ou trabalhar, seu
dia é preenchido pelo skate. Acorda por volta de meio-dia e vai para o parque da Juventude, construído no mesmo terreno em que
funcionava o presídio do Carandiru, na zona norte de São Paulo.
Ali, fica até as 21h, só andando
de skate e conversando com amigos, muitos dos quais na mesma
situação que a dele.
Leandro não é exceção. Como
ele, aproximadamente um quarto
dos jovens das oito principais regiões metropolitanas não trabalha nem estuda. De acordo com
uma pesquisa realizada pelo Ibase
(Instituto Brasileiro de Análises
Sociais e Econômicas) e pelo instituto Pólis, feita com 8.000 jovens,
27% dos brasileiros de 15 a 24
anos nessas regiões do país estão
sem atividades profissionais ou
educacionais.
Um quadro muito parecido é
revelado pela PME (Pesquisa
Mensal de Emprego) do IBGE.
Feita em seis regiões metropolitanas, ela indica que em dezembro
do ano passado 23% da população (ou 1,7 milhão de jovens) entre 16 e 24 anos não estudava nem
trabalhava. Desses 1,7 milhão, 1,1
milhão (ou 67%) nem sequer procurou emprego no mês de referência da pesquisa.
"Muitas vezes, por causa da dificuldade de encontrar uma vaga,
eles desanimam e param de procurar até que a situação melhore.
Muitos podem estar estudando
em casa ou fazendo cursos esporádicos", diz o gerente da PME,
Cimar Azeredo Pereira.
Enquanto não estudam nem
trabalham, muitos são pressionados. Leandro, por exemplo, conta
que ouve diariamente as queixas
do pai de que precisa de ajuda para manter a casa. "Todo mundo
fala que a gente é vagabundo. Não
sei se somos."
Para Eliane Ribeiro, professora
da Faculdade de Educação da
Uerj e uma das coordenadoras da
pesquisa do Ibase, não se pode dizer que todos os jovens sem emprego e trabalho sejam ociosos:
"Pode parecer que ficam todos
parados na esquina, sem fazer nada. Muitos estão procurando emprego ou vinculados a projetos
sociais. Eles não estão nessa situação porque querem. Alguns saíram da escola porque repetiram
várias vezes. Outros tentam entrar numa universidade ou conseguir um emprego, mas neste país
isso não é tão simples".
Após fazer a pesquisa com 8.000
jovens, o Ibase coordenou também grupos de discussão com 900
adolescentes. Patrícia Lânes, pesquisadora do instituto, conta que
uma queixa comum foi a restrição
do mercado de trabalho.
"Eles dizem que, sem experiência, não conseguem se inserir no
mercado de trabalho. No entanto,
sem a inserção, também nunca terão essa experiência. Muitos reclamaram ainda de preconceito
por causa de sua aparência. Dizem que não conseguiram um
emprego por causa da cor da pele
ou porque não usam a roupa ou o
cabelo da moda", afirma Lânes.
A socióloga Helena Abramo, organizadora do livro "Retrato da
Juventude Brasileira", concorda:
"O trabalho se tornou um bem
tão escasso que gera uma angústia
nesses jovens. As pesquisas feitas
com eles mostram uma preocupação grande de "sobrarem" no
mercado de trabalho".
Mas a preocupação não é só
com o mercado. "É preciso avaliar
por que esses jovens não estão na
escola. É porque não há oferta?
Faltam vagas noturnas? É preciso
uma escola que faça sentido para
esses jovens e que os ajude a entrar no mercado", afirma ela.
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