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MASSACRE DO CARANDIRU
Walter Guilherme afirma que avaliação foi técnica; jurados dizem que maioria quis condenação
Não sou dono da verdade, diz desembargador
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Alvo de críticas por ser o autor
da tese que absolveu o coronel da
reserva da PM Ubiratan Guimarães, o desembargador Walter de
Almeida Guilherme afirma que
"não é dono da verdade", mas diz
que está convicto de que agiu certo, mesmo depois de a maioria
dos jurados falar à Folha que a intenção do júri, em 2001, era mesmo condenar o oficial.
"Eu não sou o dono da verdade,
evidentemente. Mas eu estou convicto. Se eu errei, todo mundo errou comigo? Eu pedi a palavra e
expus a tese. E os outros? Ninguém pensou nada? Só [pensaram] "bom, ele está falando a verdade?" Não é assim, não", afirmou
Guilherme.
Anteontem, a Folha revelou a
posição de quatro dos sete jurados. Eles -dois favoráveis à absolvição e dois, à condenação-
afirmam que votaram conscientemente e que a condenação era a
vontade da maioria do júri.
Na quarta-feira passada, 20 desembargadores do Órgão Especial
do Tribunal de Justiça de São Paulo absolveram o oficial, que chefiou a invasão na Casa de Detenção, em 1992, que resultou na
morte de 111 presos. O coronel
Ubiratan foi acusado de co-autoria em 102 homicídios e em cinco
tentativas de homicídio.
Segundo o TJ, houve contradição nas respostas dos jurados aos
questionamentos da juíza Maria
Cristina Cotrofe Biasi, do 2º Tribunal do Júri, e a intenção deles
era inocentar o coronel Ubiratan.
Os quatro jurados afirmaram,
porém, que a intenção da maioria
era condenar o oficial. Um dos jurados chegou a dizer que se sentiu
um "palhaço" ao saber da absolvição determinada pelos desembargadores do TJ.
"Não estou entrando na cabeça
dele [do jurado]. Estou falando do
questionário. Volto a dizer: se a
coisa fosse simples, não teria tido
essa celeuma", afirmou Guilherme. Ele defende que as respostas
dos jurados inocentaram o oficial.
O desembargador admite que
até pode estar errado, mas a sua
posição é a mesma da maioria dos
desembargadores. "Eles [desembargadores] pensavam como eu.
E todos nós erramos? Todos nós
conhecemos o Código Penal, todos nós temos 30 ou 40 anos de
experiência. Todos nós erramos?
Pode ser que estejamos todos errados. Mas [o voto pela absolvição] não foi feito só por mim."
Tese equivocada
Para o promotor Felipe Locke
Cavalcanti, assessor da Procuradoria Geral de Justiça, as declarações dos jurados reforçam a tese
de que a decisão do TJ foi equivoca e deve ser derrubada pelos tribunais superiores.
"Eu tenho certeza que o jurado
conhecia mais o caso do que o desembargador que liderou a divergência [Walter Guilherme]", afirmou o promotor.
Segundo Hélio Bicudo, advogado e presidente da Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos, "qualquer justificativa em favor do coronel Ubiratan
naquele momento seria aceita".
"Como podem julgar o que os
jurados pensaram? Não foi respeitada a soberania do veredicto
popular. Tem de respeitar o que
está escrito na lei, senão vira bagunça", afirmou Bicudo.
Às 15h de hoje, entidades de direitos humanos realizam um ato
nas escadarias da Praça da Sé, no
centro de São Paulo, contra a absolvição do coronel Ubiratan.
"O depoimento dos jurados só
reforça que a decisão do TJ foi absurda", afirmou Ariel de Castro
Alves, do Movimento Nacional de
Direitos Humanos.
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