RAPHAEL GOMIDE
ANA WAMBIER
free-lance para a Sucursal do Rio

Uma manifestação em volta da lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio, reuniu, na manhã de ontem, 10 mil pessoas, segundo a Guarda Municipal, para protestar contra as políticas de meio ambiente dos governos estadual e municipal.
A maior manifestação deste ano no Rio de Janeiro também se voltou contra a política de segurança do governo do Estado, depois da demissão, sexta-feira, do coordenador de Segurança Luiz Eduardo Soares. Foi organizado um "abraço" na Lagoa e todos deram as mãos, formando uma corrente.
O protesto foi convocado pela organização não-governamental Viva Rio, em repúdio aos acidentes ecológicos ocorridos neste ano na cidade, como o vazamento de 1,3 mil toneladas de óleo da Petrobras na baía de Guanabara, em janeiro, e a mortandade de 136 toneladas de peixe na Rodrigo de Freitas, durante o Carnaval.
O protesto serviu também como palco político. Vereadores, deputados estaduais e federais do Rio de Janeiro distribuíram panfletos e adesivos e foram unânimes em exigir providências para a despoluição da lagoa e a solução para os problemas ambientais da cidade e do Estado.
O deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) disse que "a situação é muito difícil" e que "a população precisa se unir". Segundo ele, "só mudaremos com a pressão da opinião pública".
O biólogo Mário Moscatelli, que há duas semanas se demitiu do cargo de gerente estadual dos manguezais, concorda com Gabeira. "As pessoas finalmente acordaram. Temos que parar de terceirizar a cidadania. Ou a sociedade assume que quer viver numa latrina ou vai cobrar das autoridades. A lagoa se transformou num penico", afirmou.
O deputado estadual Carlos Minc (PT), presidente da Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Rio, anunciou ter encaminhado ao Ministério Público o pedido de uma auditoria ambiental independente na Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos), na Rio-Águas (empresa do município) e na área da lagoa Rodrigo de Freitas.
"A Feema (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente) vai selecionar um pool de Universidades para realizar esse trabalho de auditoria, que deverá durar cerca de três meses. Os custos serão arcados pela Cedae", explicou Minc.
De acordo com o deputado, a auditoria deverá ser finalizada em três meses.

"Abraço"
A manifestação estava marcada para começar às 10h, mas por causa do mau tempo as pessoas só chegaram ao local por volta das 11h30. O "abraço" que envolveu a lagoa foi finalmente dado às 12h25. Manifestantes, vestidos de branco, cantaram "Cidade Maravilhosa" e aplaudiram.
Representantes de ONGs, associações de moradores e escolas participaram do evento carregando cartazes de protesto e cantando palavras de ordem.
"Diga não à poluição. Faça você a sua parte", "Peixe Garotinho: gordinho e escorregadio. Peixe Conde: comilão e paradão" foram dizeres estampados em faixas e pôsteres.
Em protesto contra o despejo de esgoto clandestino na lagoa, um manifestante chegou ao local carregando um vaso sanitário.
Artistas e personalidades como o documentarista João Moreira Salles, os atores Tonico Pereira e Rogério Cardoso e Isabelita dos Patins também estiveram na lagoa para protestar.



Texto Anterior: Minas gerais: Chuvas interditam rodovia
Próximo Texto: Gabeira provoca polêmica
Índice