São Paulo, domingo, 20 de março de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Acham que nós somos ladrões"

DA REVISTA DA FOLHA

A seguir, o depoimento da peruana Sofía (nome fictício), 20, que veio para o Brasil há um ano, "atrás de algo melhor":
"Foram sete dias de ônibus. Meu filho veio na barriga, nasceu aqui, em um hospital público. Em Lima, eu trabalhava no balcão de um restaurante, e o meu marido com pintura industrial. Vir para cá era um sonho antigo. Eu engravidei, minha mãe ficou brava e isso foi como um empurrão.
"Viemos com visto de turista e uns R$ 1.000. Quando chegamos a São Paulo, a primeira coisa foi procurar um lugar para ficar. Fomos direto para a praça da Sé. Aí falaram: "Vá à direita, atravessa dois viadutos e você chega ao Brás". Vimos uma placa de aluga-se apartamento e decidimos ficar. Pagávamos R$ 300 por mês.
Foi muito duro. Decidimos ir para Santos, mas não deu certo. "Voltamos para São Paulo e o meu marido arrumou trabalho num salão de festas de peruanos, faz a limpeza. Estamos pensando em entrar com pedido de permanência, já que temos filho nascido no Brasil. Mas temos de pagar as multas, muito caras para nós.Também não temos certeza se é melhor, porque perderíamos a cidadania peruana. E se a gente decidir voltar, como fica?
"Há preconceito no Brasil contra peruanos, acham que somos ladrões. Fui trabalhar em Itanhaém, e minha patroa falou: "Tenho uma vizinha que foi roubada por uma empregada peruana".
"Hoje trabalho como babá e tenho muitos sonhos. Quero trabalhar e juntar dinheiro para montar um negócio próprio. Gostaria de ter uma oficina de costura ou uma pequena loja de roupas, mas, sabe como é, todo imigrante vem atrás de um sonho e acorda com água gelada na cara."


Texto Anterior: Terra estrangeira: Brasil tem 1,5 milhão de imigrantes irregulares
Próximo Texto: Em São Paulo, boliviano trabalha para pagar dívida
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.