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"Acham que nós somos ladrões"
DA REVISTA DA FOLHA
A seguir, o depoimento da peruana Sofía (nome fictício), 20,
que veio para o Brasil há um ano,
"atrás de algo melhor":
"Foram sete dias de ônibus.
Meu filho veio na barriga, nasceu
aqui, em um hospital público. Em
Lima, eu trabalhava no balcão de
um restaurante, e o meu marido
com pintura industrial. Vir para
cá era um sonho antigo. Eu engravidei, minha mãe ficou brava e isso foi como um empurrão.
"Viemos com visto de turista e
uns R$ 1.000. Quando chegamos a
São Paulo, a primeira coisa foi
procurar um lugar para ficar. Fomos direto para a praça da Sé. Aí
falaram: "Vá à direita, atravessa
dois viadutos e você chega ao
Brás". Vimos uma placa de aluga-se apartamento e decidimos ficar.
Pagávamos R$ 300 por mês.
Foi muito duro. Decidimos ir
para Santos, mas não deu certo.
"Voltamos para São Paulo e o
meu marido arrumou trabalho
num salão de festas de peruanos,
faz a limpeza. Estamos pensando
em entrar com pedido de permanência, já que temos filho nascido
no Brasil. Mas temos de pagar as
multas, muito caras para
nós.Também não temos certeza
se é melhor, porque perderíamos
a cidadania peruana. E se a gente
decidir voltar, como fica?
"Há preconceito no Brasil contra peruanos, acham que somos
ladrões. Fui trabalhar em Itanhaém, e minha patroa falou: "Tenho uma vizinha que foi roubada
por uma empregada peruana".
"Hoje trabalho como babá e tenho muitos sonhos. Quero trabalhar e juntar dinheiro para montar um negócio próprio. Gostaria
de ter uma oficina de costura ou
uma pequena loja de roupas, mas,
sabe como é, todo imigrante vem
atrás de um sonho e acorda com
água gelada na cara."
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