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ANÁLISE
Bons resultados não se devem só à escola
SILVIA COLELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Avaliar escolas é uma tarefa
complexa. Isso porque o impacto da escolaridade sobre o
estudante vai além da esfera
cognitiva. Tem implicações ao
longo da vida: sua visão de
mundo, modo de inserção social, raciocínio crítico, habilidade de organização e planejamento, criatividade, liderança,
postura ética, senso de responsabilidade e compromisso social, entre outros aspectos.
Na amplitude do processo
educativo, parece difícil
apreender tantas metas desejáveis na formação humana. Por
isso, a precariedade da cultura
avaliativa no Brasil muitas vezes se reduz à publicação de um
ranking de escolas, elaborado
com base em uma única prova
(como é o caso do Enem), cujos
critérios nem sempre são evidentes para a população.
Assim, os valores educativos
se submetem aos números e
acirram a dimensão empresarial das escolas. As avaliações
traduzidas pelo ranking acabam servindo como recursos
mercadológicos que definem o
fluxo na busca de escolas.
Nesse contexto, a pesquisa
Eduqual com ex-alunos de 11
colégios em SP configura-se como iniciativa relevante porque,
ao incorporar critérios nunca
antes considerados, acaba por
agregar dados, ampliar a visibilidade sobre o conjunto do esforço educativo e sofisticar os
mecanismos de avaliação.
A despeito dos méritos, há
duas ressalvas. Os bons resultados dos alunos não se devem só
à ação escolar mas também ao
perfil da clientela. Os estudantes de escolas particulares são
aqueles que têm maior acesso à
cultura letrada, mais experiências extraescolares, melhores
condições de frequentar as universidades e chances de chegar
ao mercado. É preciso admitir:
as boas escolas são boas também porque lidam com um público com mais probabilidade
de se inserir produtivamente.
A respeito do uso institucional da avaliação, é preciso ter
cautela com a eventual manipulação: com mais dados à disposição, o arranjo na mostra e
omissão de resultados pode se
constituir como um instrumento a serviço do mercado escolar, perpetuando os vícios
das práticas avaliativas.
Outra vez, o senso crítico e o
compromisso com a educação
nos levam a questionar: avaliar
a educação, como e para quê?
SILVIA COLELLO é professora da Faculdade de
Educação da USP
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