São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997.

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Colcha lembra parceiro morto

da Reportagem Local
O decorador Paulo Sérgio

Souza, 38, fez uma colcha lembrando seu companheiro, o técnico em edificações Léo Villanova, 47, morto pela Aids em março do ano passado. Os dois viveram juntos 15 anos.
Souza, que não está infectado, participa do projeto Retalhos, criado pelo Grupo Pela Vidda (leia texto na página 3-7). A colcha mostra um semáforo onde cada cor é uma advertência.
``É mais um protesto'', diz Souza. Ele se ``tortura'' por não ter podido ajudar o companheiro. ``Ele escondeu tudo de mim, me traiu. Eu sabia que ele saía com outros, eu só pedia que se cuidasse.''
Léo nunca revelou que estava com Aids e Souza só soube da doença oito meses antes de sua morte. ``Quando o médico contou que ele já se tratava há três anos, eu me revoltei. Eu queria ter podido ajudar, mas ele preferiu o suicídio.''
Souza diz que vive cheio de mágoa. ``Tínhamos combinado que quem morresse primeiro voltaria para buscar o outro. Ando pelas ruas do bairro na esperança de encontrá-lo. Venho aqui no grupo para ver a cadeira onde ele se sentava.''
Lena e Antonio Carlos se conheceram no Grupo Pela Vidda há dois anos. Os dois tinham Aids, estavam sozinhos e se casaram. Formavam um par apaixonado, dizem os amigos.
Lena morreu seis meses atrás. Antonio Carlos, que trabalhava como segurança e estava bem de saúde, ajudou a fazer a colcha de Lena. A colcha tem flores de todas as cores sobre um fundo azul escuro. Quando o trabalho ficou pronto, Antonio Carlos caiu doente e morreu depressa. Será o próximo a ser homenageado. (AB)
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