UOL


São Paulo, domingo, 20 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Usuários discutem tratamentos

DA REPORTAGEM LOCAL

Imagine alguém doente, confuso, sozinho. Quando essa pessoa busca ajuda médica, a situação só piora. É tratada como alguém fora dos padrões, é enganada, chamada de "safada".
Na última quarta-feira, a Folha acompanhou sessão de tratamento de um grupo de dependentes de crack e cocaína em São Paulo. A terapeuta propôs que debatessem a assistência da saúde ao uso e ao abuso de drogas. Os pacientes evitaram ser identificados:
1) "Conseguir tratamento no NA (Narcóticos Anônimos) é fácil. Mas quando você quer um tratamento que tenha mais infra-estrutura, a espera é longuíssima, angustiante. Você se sente um lixo, um nada. Cheguei de fora viciado em heroína. Ninguém sabia o que era. Se eu tivesse esperando, estava com os bichos embaixo da terra. Você fica em casa, esperando o telefone tocar."
2) "Não é só o serviço público, mas também o privado. Meu psiquiatra não tinha especialização para me tratar. Nós apenas convivíamos com aquilo. Após cinco anos, ele procurou um colega e soube me encaminhar. Tive crises de overdose, mas chegava ao pronto-socorro e não sabiam tratar. Fui internado em hospital psiquiátrico, mas não aguentava a convivência com esquizofrênicos. Meu problema era outro."
3) "Na clínica particular, tinha no contrato que iria ter uma consulta por semana. Mas foi uma roubada. Já fiquei em lugar que não tinha nem psiquiatra. Pagava R$ 1.000 e tinha dias que serviam arroz, feijão e ovo."
4) "O governo não combate a fome. Vai mexer com a droga? É assim na periferia: chegou no hospital e cheirou, eles te prendem. Os médicos não põem a mão e falam: "Você é safado"."

Proposta de parceria
"Nas faculdades de medicina, ninguém aprende sobre dependência química. Os médicos sabem o resultado, não o processo", opina Hugo L., coordenador de divulgação dos Alcoólicos Anônimos, que tentaram, sem sucesso, fazer uma parceria com hospitais da prefeitura paulistana para ter um plantão assistencial. Com a troca do secretário da Saúde, o projeto está paralisado.
"Queria achar ajuda", afirma o músico José Luiz, 36, ex-dependente de crack atendido no CAPs Vila Mariana, em São Paulo. "O que te faz ficar [no centro" é a certeza de ser bem recebido."

Texto Anterior: Regras podem fechar centros
Próximo Texto: Danuza Leão: Como era bom
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.