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Comércio reabre
no "pós-guerra"
da Rocinha
FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO
Aos poucos, a favela da Rocinha
(São Conrado, zona sul) retoma o
cotidiano de antes da tentativa de
invasão promovida pelo traficante Eduíno Eustáquio de Araújo Filho, o Dudu, no último dia 9. As
creches, escolas e o comércio funcionaram ontem normalmente. O
último resquício de que ali houve
uma guerra é a presença ostensiva
de 1.230 policiais militares, segundo a Secretaria de Segurança Pública.
A Folha percorreu a favela de
mototáxi -meio de transporte
usado pelos moradores para chegar em casa. A viagem custa R$ 1.
Apesar da presença da polícia, os
traficantes continuam a amedrontar a população.
O mototaxista que se identificou como Carlos, 32, se recusou a
mostrar a casa onde o traficante
que comandava o tráfico na Rocinha, Luciano Barbosa da Silva, o
Lulu, foi morto pela polícia, na última quarta-feira.
Segundo ele, os traficantes fariam "represálias" caso levasse
uma jornalista ao local em que
Lulu morreu.
"Você acha que eles [os traficantes] ainda não sabem que você
está na minha garupa?", questionou.
Quanto mais alto, mais policiais
ocupavam a favela. PMs do Bope
(Batalhão de Operações Especiais) -a tropa de elite da corporação- revistavam mais moradores do que os que estavam nos
acessos à favela.
PMs que passavam em Blazers
pretas do Bope mantinham o porta-malas aberto e os fuzis apontados para quem estava na rua.
Na base do morro, a presença
dos policiais era mais discreta.
Nos bares, conversando dentro
dos carros ou com os ambulantes
locais, eles não davam muita atenção a quem saía ou entrava na favela.
Mesmo com a presença ostensiva dos PMs -ou por causa dela-, a população da favela continua amedrontada.
"Com muita polícia na rua, o
pessoal acha que pode haver um
confronto e não sai de casa", disse
o comerciante Jáder Rodrigues da
Rocha, 50.
Dono da Ótica Moderna, na entrada da Via Ápia, uma das principais ruas da favela, Rocha disse
que, na semana passada, teve um
prejuízo recorde. Acostumado a
movimentar R$ 7.000 por semana, disse que as vendas não alcançaram R$ 1.000.
Depois de seis dias de tiroteios,
que culminaram com a morte de
Lulu, a empregada doméstica
Francisca Antônia da Silva, 27,
buscava sua filha na creche Recanto pela primeira vez. "Isso [a
violência] nunca vai acabar", disse ela, que mora há 12 anos na Rocinha.
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