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MODA NA ESCOLA
Inspirada em livro, exposição reúne 80 imagens desde 1901 e mostra diferentes tecidos, como fustão e tactel
Evento gratuito conta história do uniforme
DANIELA TÓFOLI
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
A professora Margarida Elme,
68, passou quatro anos usando a
mesma saia enquanto estava na
escola. Chamado de "roupa de
crescimento", seu uniforme de
garota nos anos 50 era tão resistente que bastava sua mãe deixar
uma barra bem comprida no
avesso para ir soltando conforme
ela crescia.
Aluna da quinta série, Letícia
Fernandes, 9, nem imagina como
seria sua rotina com apenas um
modelo de uniforme. Vestindo
calça e casaco de moletom ontem,
ela dizia que sua escola, a Carlitos,
na zona oeste da capital, precisa
oferecer mais opções às alunas,
além do moletom, dos conjuntos
de tactel, do vestido jeans e dos
casacos de lã. Seu objeto de desejo
é uma saia.
Dos anos 50 para cá, mudaram a
moda, os tecidos, o comportamento. Os uniformes seguiram o
movimento. Da blusa de fustão
(um tecido de algodão riscado) à
calça de tactel, passando pelas
gravatas obrigatórias até para meninas (que dona Margarida
usou), o estilo das roupas vestidas
por estudantes desde 1901 é a base
da exposição "História do Uniforme Escolar no Brasil", aberta a visitação no próximo dia 24, no Colégio Augusto Laranja.
Com entrada franca, ela ficará
na escola até o dia 28. Em maio, as
80 fotos vão para a estação Sé do
metrô. Elas mostram vestidos de
alças largas acompanhados por
cordões com crucifixos dos anos
20 e as calças e paletós com cinturão e botas pretas dos meninos da
década de 50. "Pelos retratos, percebemos tendências como comprimento e forma das saias, uso
de chapéus e aventais, estilo de camisas e casacos. Até os anos 80, o
uniforme sempre acompanhou as
mudanças da moda", diz Isabel
Pires, coordenadora do livro que
dá nome à mostra. "Depois, se
tornou mero agasalho esportivo.
Os alunos reclamam com razão."
A educadora Emirene Nogueira, 60, está curiosa para ver os uniformes antigos. Ex-aluna do Colégio Santa Inês, no centro, ela não
gostava do seu. "Era um martírio.
A gente tinha de usar blusa de
manga comprida até no verão e
quem fosse flagrado arregaçando-as na volta para casa levava advertência." Para ela, o uniforme é
necessário por dois fatores. "Os
pais não gastam dinheiro comprando muita roupa e fica mais
fácil identificar quem é da escola."
Lisandre Maria Castello Branco,
da Faculdade de Educação da
USP, aponta outro motivo para a
necessidade do uniforme. "Ele
traz uma mensagem subliminar
de que somos iguais, é uma referência de coletividade." Diretora
da Carlitos, Manuela Anabuki
concorda: "Se não adotássemos
uniforme, isso aqui seria um inferno de competição de marcas".
Alguns educadores dizem que o
uniforme pode causar uma perda
de referência pessoal. Por isso
acreditam que, na adolescência,
quando grande parte dos valores
coletivos já foi sedimentada, ele
perde utilidade. "Os alunos desta
idade já estão mais maduros", diz
a diretora do colégio Augusto Laranja, Rosa de Paula. "Para os que
usam uniforme, as escolas tentam
seguir a evolução da moda."
O estilista Jun Nakao indica como adaptar uniformes a gostos
diversos. "Basta dar opções para
personalizar a roupa com pequenos detalhes. Um uniforme tem
de ser simples e confortável, mas
permitir uma certa individualidade", afirma. "Hoje, as roupas têm
uma carência de linguagem e acabamento. As escolas ainda não
perceberam como o uniforme pesa em sua imagem e na do aluno."
Se palpites estudantis influírem
na modernização, o processo promete ser rápido. "Gostaria de poder usar calça jeans e short", diz a
aluna do quarto ano Diana de Oliveira, 8. "Podia ter boné da escola", sugere Pedro Gualtiari, 10.
Onde: Colégio Augusto Laranja, rua dos
Chanés, 205, Moema, das 9h às 19h
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