São Paulo, domingo, 20 de abril de 2008

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Fila para visto mexicano começa na véspera

Passageiros reclamam da infra-estrutura de atendimento no consulado; maioria já esteve no local 2 ou 3 vezes para conseguir senha

Primeiros da fila, despachantes chegam às 21h30 do dia anterior e cobram de R$ 300 a R$ 400 pelo lugar

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Chego às 5h10 e cerca de 95 pessoas já esperam do lado de fora do Consulado-Geral do México, em São Paulo, para obter o visto de entrada no país.
A maioria já esteve duas ou três vezes na repartição sem conseguir uma das 150 senhas distribuídas de segunda a quinta-feira. O consulado não responde ao telefone, nem faz agendamento. Informações, pelo site. Pena que não avisem que o consulado só recebe quem cedo madruga.
Há duas semanas, quando fui tirar um visto para uma cobertura no país, os primeiros da fila tinham chegado às 21h30 da véspera. Eram despachantes querendo garantir os melhores lugares, a um custo entre R$ 300 e R$ 400. Dependendo da demanda, o preço pode cair.
"Os clientes têm de chegar cedo. Se o funcionário do consulado não vê o passageiro aqui, manda a gente sair", diz a segunda da fila.
Desde 2005, o visto mexicano passou a ser exigido de brasileiros. Argentinos, venezuelanos e panamenhos, dentre outras nacionalidades, ainda são dispensados do documento, desde que o passaporte tenha validade mínima de seis meses.
Ainda está escuro. Muitos trouxeram cadeiras, alguns dormem em colchonetes. Chega um dos moradores, que briga para que saiam de sua porta para poder entrar em casa.
Não há nenhum esquema de segurança do lado de fora do consulado. Nem banheiros ou cobertura para se proteger da chuva, comparam os nostálgicos da fila no consulado norte-americano. Felizmente a garoa que começa acaba logo.

Prazo
Veterano na fila, é a quarta vez em dois anos que o farmacêutico Cristiano Torezan pede autorização para ir ao México. Torezan, que tem o visto norte-americano e trabalha em São Paulo para uma firma dos Estados Unidos, diz que já explicou no consulado que sua pesquisa no país durará mais dois anos.
"Não há critério no prazo dado. Já tive de cancelar viagem porque o visto expirou. Se fosse para passear, não estaria aqui."
Os namorados Samanta Borini e Cristian de Almeida saíram de Birigüi, a 518 km de São Paulo, no começo da noite anterior para garantir as senhas. Um rapaz de Araraquara (a 273 km da capital) perdia o segundo dia de trabalho porque na véspera chegara "tarde", às 7h. Só às 10h soube que não ia dar.
"Exigências são direito do país", tenta ponderar lá do fundo da fila o empresário Wilson Braun. "O problema é a falta de infra-estrutura no atendimento." Isaura, sua mulher, diz que é sua terceira vez ali. "É muita humilhação!"

Despachantes
Por volta das 7h, o perfil da fila começa a mudar. Chegam altos executivos, senhoras de muita idade e mães com crianças no colo, cujos lugares foram guardados por despachantes ou familiares. Não há atendimento preferencial.
Um casal elegante rende o despachante. Começa uma discussão. "Um ainda passa, mas dois não vão entrar, ou chamo a polícia!", esbraveja o que vem atrás na fila. O funcionário do consulado se aproxima, e o casal desiste. Às 8h30, a fila anda.
Há senhas para turistas e para quem vai a trabalho. Apesar das muitas exigências, a de "negócios" é mais ágil. Recebo a senha de número 24. O de trás, a 70ª, de turistas. A fila se desorganiza na entrada, mas, dentro do consulado, ao menos há bancos para se sentar.
Os candidatos ao visto são atendidos de pé, no terraço mesmo, em guichês envidraçados. Cinco horas e meia depois de chegar, sou liberada. Mas a fila de turista ainda ia longe.
Dois dias úteis depois, e uma pequena fila, sai o visto: apenas 30 dias para ir ao México. Penso nos noivos que querem passar a lua-de-mel, lá, só em junho. "A agência de turismo nem nos alertou. Viemos bem antes porque um conhecido já tentou três vezes, e nada."


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