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Fila para visto mexicano começa na véspera
Passageiros reclamam da infra-estrutura de atendimento no consulado; maioria já esteve no local 2 ou 3 vezes para conseguir senha
Primeiros da fila, despachantes chegam
às 21h30 do dia anterior
e cobram de R$ 300 a
R$ 400 pelo lugar
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Chego às 5h10 e cerca de 95
pessoas já esperam do lado de
fora do Consulado-Geral do
México, em São Paulo, para obter o visto de entrada no país.
A maioria já esteve duas ou
três vezes na repartição sem
conseguir uma das 150 senhas
distribuídas de segunda a quinta-feira. O consulado não responde ao telefone, nem faz
agendamento. Informações,
pelo site. Pena que não avisem
que o consulado só recebe
quem cedo madruga.
Há duas semanas, quando fui
tirar um visto para uma cobertura no país, os primeiros da fila tinham chegado às 21h30 da
véspera. Eram despachantes
querendo garantir os melhores
lugares, a um custo entre
R$ 300 e R$ 400. Dependendo
da demanda, o preço pode cair.
"Os clientes têm de chegar
cedo. Se o funcionário do consulado não vê o passageiro aqui,
manda a gente sair", diz a segunda da fila.
Desde 2005, o visto mexicano passou a ser exigido de brasileiros. Argentinos, venezuelanos e panamenhos, dentre outras nacionalidades, ainda são
dispensados do documento,
desde que o passaporte tenha
validade mínima de seis meses.
Ainda está escuro. Muitos
trouxeram cadeiras, alguns
dormem em colchonetes. Chega um dos moradores, que briga
para que saiam de sua porta para poder entrar em casa.
Não há nenhum esquema de
segurança do lado de fora do
consulado. Nem banheiros ou
cobertura para se proteger da
chuva, comparam os nostálgicos da fila no consulado norte-americano. Felizmente a garoa
que começa acaba logo.
Prazo
Veterano na fila, é a quarta
vez em dois anos que o farmacêutico Cristiano Torezan pede
autorização para ir ao México.
Torezan, que tem o visto norte-americano e trabalha em São
Paulo para uma firma dos Estados Unidos, diz que já explicou
no consulado que sua pesquisa
no país durará mais dois anos.
"Não há critério no prazo dado. Já tive de cancelar viagem
porque o visto expirou. Se fosse
para passear, não estaria aqui."
Os namorados Samanta Borini e Cristian de Almeida saíram de Birigüi, a 518 km de São
Paulo, no começo da noite anterior para garantir as senhas.
Um rapaz de Araraquara (a 273
km da capital) perdia o segundo
dia de trabalho porque na véspera chegara "tarde", às 7h. Só
às 10h soube que não ia dar.
"Exigências são direito do
país", tenta ponderar lá do fundo da fila o empresário Wilson
Braun. "O problema é a falta de
infra-estrutura no atendimento." Isaura, sua mulher, diz que
é sua terceira vez ali. "É muita
humilhação!"
Despachantes
Por volta das 7h, o perfil da fila começa a mudar. Chegam altos executivos, senhoras de
muita idade e mães com crianças no colo, cujos lugares foram
guardados por despachantes ou
familiares. Não há atendimento preferencial.
Um casal elegante rende o
despachante. Começa uma discussão. "Um ainda passa, mas
dois não vão entrar, ou chamo a
polícia!", esbraveja o que vem
atrás na fila. O funcionário do
consulado se aproxima, e o casal desiste. Às 8h30, a fila anda.
Há senhas para turistas e para quem vai a trabalho. Apesar
das muitas exigências, a de "negócios" é mais ágil. Recebo a senha de número 24. O de trás, a
70ª, de turistas. A fila se desorganiza na entrada, mas, dentro
do consulado, ao menos há
bancos para se sentar.
Os candidatos ao visto são
atendidos de pé, no terraço
mesmo, em guichês envidraçados. Cinco horas e meia depois
de chegar, sou liberada. Mas a
fila de turista ainda ia longe.
Dois dias úteis depois, e uma
pequena fila, sai o visto: apenas
30 dias para ir ao México. Penso nos noivos que querem passar a lua-de-mel, lá, só em junho. "A agência de turismo
nem nos alertou. Viemos bem
antes porque um conhecido já
tentou três vezes, e nada."
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