São Paulo, sábado, 20 de maio de 2000


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NOVO CONFRONTO
Governador é atingido por bandeira durante inauguração; ele acusou grevistas de estarem mentindo
Covas é agredido durante protesto no ABC

"Diário do Grande ABC"
Governador Covas durante inauguração de uma agência do Banco do Povo em São Bernardo


FLÁVIA DE LEON
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de São Paulo, Mário Covas, enfrentou ontem um grupo de manifestantes em São Bernardo, no ABC, e acabou sendo agredido com uma bandeira na cabeça. Ele tentou revidar a agressão, mas foi contido por seguranças e deixou o local com uma marca roxa na testa.
Covas foi a São Bernardo inaugurar uma agência do Banco do Povo, um programa que empresta dinheiro a pessoas carentes a juros baixos.
Ao chegar, deparou-se com cerca de 30 pessoas, segundo a Polícia Militar, que gritavam palavras de ordem e distribuíam panfletos do sindicato dos professores da rede estadual. A PM estimou o público total em 500 pessoas.
O governador caminhou em direção a eles e disse: "Vamos lá, um de cada vez, machão". Falava com o vereador do PT Aldo dos Santos, mas a conversa evoluiu rapidamente para um bate-boca, e Covas chegou a empurrá-lo.
Mais tarde, durante entrevista, o governador disse não se lembrar do empurrão. "Não me lembro de ter empurrado alguém, mas seria bom ter empurrado", afirmou.
Enquanto era cercado por seguranças, manifestantes e pela imprensa, uma bandeira de papel presa em uma vareta voou na direção do governador e o atingiu. Nela estava escrito: "Brasil, verás que um filho teu não foge à luta".
Marcos Tchai, que se identificou como professor de história, foi quem levou a bandeira. Ele pintou uma mão de vermelho, para simbolizar a batalha de anteontem entre grevistas e PMs na avenida Paulista.
Depois da confusão, foi detido pelos PMs para "averiguações", mas foi solto em seguida e não chegou a ser levado à delegacia.
Benedito Carlos dos Santos, representante de escola e que ajudava Tchai a segurar a bandeira, disse que foi a madeira de outra faixa que bateu "acidentalmente" na cabeça do governador. "No meio do tumulto, a faixa caiu", disse. Manoel Vitorino, também professor de história, teve duas caixas de ovos apreendidas.
Depois do tumulto, a PM pediu reforço. Aos iniciais dois PMs e seis integrantes da Guarda Municipal somaram-se 48 policiais e 22 guardas, além de 20 integrantes da tropa de choque que ficaram na retaguarda.

Malufistas e PSTU
Ao começar o discurso de inauguração da agência, Covas disse aos manifestantes, que gritavam palavras de ordem como "Abaixo a repressão", que falaria com eles depois. "Primeiro deixa eu falar coisa séria, que interessa ao povo. Depois eu falo com malufistas."
Covas, no entanto, passou a maior parte do discurso, de cerca de 20 minutos, respondendo às provocações do grupo e dirigindo-se a eles ora como malufistas, ora como integrantes do PSTU.
"Agora, ali no meio, o lambão pegou uma coisa dessa de faixa e me deu uma cacetada na cabeça e sumiu. Não se apresentou para para ficar discutindo. Isso é PSTU, eu conheço essa gente. E vocês pensam que vou ficar com medo? Eu tenho milhões de votos e não é meia dúzia de malufista que vai me fazer mudar de posição", afirmou o governador.
Ele aproveitou para responder aos grevistas das áreas da educação e da saúde, que reivindicam aumento salarial. Voltou a acusá-los de mentir à população ao afirmar que não recebem reajuste há cinco anos e citou várias leis.
Em entrevista após discursar, Covas justificou a ação da PM anteontem na Paulista dizendo que a avenida abriga dezenas de hospitais. "Lógico que era preciso usar bomba. Eles (PMs) pediram primeiro por favor, mas você viu alguém sair da rua?" questionou.
Ele disse que, se for preciso, a polícia voltará a atuar como fez anteontem. "Isso é o papel que a polícia de choque faz e que até agora não resultou em nenhum acidente fatal. Ou vocês acham que essa é a primeira vez?"


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