São Paulo, sábado, 20 de maio de 2000


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PM X MORADORES
Por três horas e meia, moradores do Jardim São Carlos, em São Paulo, resistiram à retirada com barricadas
Conflito em desocupação deixa 4 feridos

SORAYA AGÉGE
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo menos 2.000 moradores do Jardim São Carlos, na região de Guaianazes (zona leste de São Paulo), entraram em confronto ontem, durante três horas e meia, com cerca de 200 PMs. Eram os mesmos soldados e comandantes que agiram anteontem no conflito na avenida Paulista.
Pelo menos quatro pessoas ficaram feridas, sendo três policiais e um civil. Um policial, identificado apenas como Gladyson, teria tido um dos tímpanos perfurado por causa de uma bomba caseira, segundo a PM. Pelo menos duas mulheres foram hospitalizadas em estado de choque.
O 2º e o 3º Batalhões de Choque, o Regimento da Cavalaria e o 28º BPM (Batalhão de Polícia Militar) usaram bombas de gás, balas de borracha, espadas e cães.
Os moradores montaram barricadas e queimaram mais de 2.000 pneus. Os adolescentes do bairro montaram grupos de ação e passaram a atirar pedras, pedaços de pau e rojões contra os policiais.
A polícia cumpria uma ordem de reintegração de posse e conseguiu retirar as mudanças de várias famílias. Os móveis foram para um depósito da Justiça e muitos moradores do local ficaram desabrigados ontem.

O motivo
O motivo do confronto foi um mandado da Justiça, para a reintegração de um número não identificado de casas do bairro, pedido por um suposto posseiro.
As famílias mostravam escrituras e recibos de pagamentos de seus lotes, mas foram ignoradas pela polícia e pelos oficiais de Justiça. Uma casa chegou a ser derrubada ontem e 40 foram marcadas com um "X" em vermelho para serem demolidas hoje.
O advogado Dorival Antonio Biella, que afirma representar duas empresas e ser dono de uma imobiliária, é apontado como "grileiro" pelos deputados estaduais Jamil Murad (PC do B), Paulo Teixeira (PT) e a vereadora Ana Martins (PC do B), que pretendem acionar o Ministério Público para tentar um processo contra o suposto grileiro.
O advogado foi escoltado por 40 policiais da tropa de choque e se recusou a falar com jornalistas e deputados. Pouco antes do final da operação, ele disse que as terras lhe pertencem e que "a Justiça foi feita".
O bairro surgiu há quase 30 anos, de um loteamento clandestino. Hoje a área tem cerca de 2.000 casas e 600 estariam na área do suposto posseiro. Para garantir a posse, cinco oficiais de Justiça, o advogado e dois assessores apontavam as casas que deveriam ser esvaziadas.
Antes do confronto, a União dos Moradores do Jardim São Carlos entrou com um agravo de instrumento, para tentar suspender a liminar. O TJ (Tribunal de Justiça) não aceitou o pedido.


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