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PM X MORADORES
Por três horas e meia, moradores do Jardim São Carlos, em São Paulo, resistiram à retirada com barricadas
Conflito em desocupação deixa 4 feridos
SORAYA AGÉGE
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Pelo menos 2.000 moradores do
Jardim São Carlos, na região de
Guaianazes (zona leste de São
Paulo), entraram em confronto
ontem, durante três horas e meia,
com cerca de 200 PMs. Eram os
mesmos soldados e comandantes
que agiram anteontem no conflito na avenida Paulista.
Pelo menos quatro pessoas ficaram feridas, sendo três policiais e
um civil. Um policial, identificado
apenas como Gladyson, teria tido
um dos tímpanos perfurado por
causa de uma bomba caseira, segundo a PM. Pelo menos duas
mulheres foram hospitalizadas
em estado de choque.
O 2º e o 3º Batalhões de Choque,
o Regimento da Cavalaria e o 28º
BPM (Batalhão de Polícia Militar)
usaram bombas de gás, balas de
borracha, espadas e cães.
Os moradores montaram barricadas e queimaram mais de 2.000
pneus. Os adolescentes do bairro
montaram grupos de ação e passaram a atirar pedras, pedaços de
pau e rojões contra os policiais.
A polícia cumpria uma ordem
de reintegração de posse e conseguiu retirar as mudanças de várias
famílias. Os móveis foram para
um depósito da Justiça e muitos
moradores do local ficaram desabrigados ontem.
O motivo
O motivo do confronto foi um
mandado da Justiça, para a reintegração de um número não identificado de casas do bairro, pedido
por um suposto posseiro.
As famílias mostravam escrituras e recibos de pagamentos de
seus lotes, mas foram ignoradas
pela polícia e pelos oficiais de Justiça. Uma casa chegou a ser derrubada ontem e 40 foram marcadas
com um "X" em vermelho para
serem demolidas hoje.
O advogado Dorival Antonio
Biella, que afirma representar
duas empresas e ser dono de uma
imobiliária, é apontado como
"grileiro" pelos deputados estaduais Jamil Murad (PC do B),
Paulo Teixeira (PT) e a vereadora
Ana Martins (PC do B), que pretendem acionar o Ministério Público para tentar um processo
contra o suposto grileiro.
O advogado foi escoltado por 40
policiais da tropa de choque e se
recusou a falar com jornalistas e
deputados. Pouco antes do final
da operação, ele disse que as terras lhe pertencem e que "a Justiça
foi feita".
O bairro surgiu há quase 30
anos, de um loteamento clandestino. Hoje a área tem cerca de
2.000 casas e 600 estariam na área
do suposto posseiro. Para garantir a posse, cinco oficiais de Justiça, o advogado e dois assessores
apontavam as casas que deveriam
ser esvaziadas.
Antes do confronto, a União
dos Moradores do Jardim São
Carlos entrou com um agravo de
instrumento, para tentar suspender a liminar. O TJ (Tribunal de
Justiça) não aceitou o pedido.
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