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São Paulo, terça-feira, 20 de maio de 2003

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TRANSPORTE

Polícia deteve presidente e dez diretores acusados de formar quadrilha e cobrar por greves

PF prende líderes dos motoristas

Almeida Rocha/Folha Imagem
Os sindicalistas Luiz Carlos Antonio, Edivaldo Santiago e Isao Hosogi


SIMONE IWASSO
ALENCAR IZIDORO
SÉRGIO DURAN

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do sindicato dos motoristas e cobradores de ônibus de São Paulo, Edivaldo Santiago da Silva, 55, e dez diretores da entidade foram presos ontem pela Polícia Federal. Eles são acusados, entre outros crimes, de receber dinheiro de empresários do setor para organizar greves.
Santiago e outros 16 diretores do sindicato tiveram prisão temporária (por cinco dias, podendo ser prorrogada) decretada pela Justiça a pedido do Ministério Público Federal. Em nota, o órgão afirmou que o objetivo é "evitar que testemunhas sejam intimidadas, ameaçadas ou que se repitam condutas criminosas como a deflagração de novas paralisações".
Os sindicalistas são acusados de formação de quadrilha, desobediência a ordem judicial (por não terem mantido parte da frota nas ruas nas greves de 7 e 8 de abril), paralisação de trabalho seguida de violência, paralisação de trabalho de interesse coletivo, frustração de direitos trabalhistas e danos ao patrimônio (por supostamente depredar ônibus).
"Eles estavam previamente ajustados com empresários para favorecê-los em determinadas questões. Agiram em benefício próprio e não pensaram no coletivo", disse o promotor José Carlos Blat, ao justificar a acusação de formação de quadrilha.
Também foram presos dois seguranças de Santiago, funcionários de uma empresa de ônibus. Dois dos 11 sindicalistas detidos se apresentaram à polícia.
Seis diretores, cujos nomes a PF não quis divulgar, ainda não foram encontrados. Caso não se entreguem em cinco dias, poderão ter a prisão preventiva decretada -nesse caso, por prazo maior.
Foram mobilizadas nove equipes da PF para realizar as prisões e apreender documentos. Comprovantes de compra e venda de veículos, além de computadores, foram apreendidos nas casas dos presos. A operação -batizada de "Roda Livre"- coincidiu com a extinção, determinada pela prefeitura, de 15% das linhas de ônibus da capital paulista.
Inédita no movimento sindical, a operação foi iniciada na madrugada de ontem. Santiago foi preso em casa e levado algemado à sede da Polícia Federal.
Segundo o promotor, membros do sindicato, entre eles o presidente, Edivaldo Santiago, também são suspeitos de crimes de corrupção ativa e passiva, estelionato e até de homicídio. Empresários e funcionários da SPTrans (empresa municipal que gerencia o sistema) também serão investigados.
A Promotoria investiga oito assassinatos de sindicalistas ocorridos nos últimos três anos. O DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) irá reabrir alguns processos que haviam sido arquivados e que envolveriam membros da diretoria.
"Eles serão ouvidos, e vamos pedir, dentro do prazo de dez dias, a prisão preventiva de todos", disse o delegado da Polícia Federal, Nivaldo Bernardi.
Segundo o delegado, outros 50 sindicalistas estão sendo investigados sob suspeita de participarem de formação de quadrilha e de greves combinadas com os empresários para forçar a prefeitura a renegociar contratos, conceder subsídios e elevar tarifas.
A operação policial foi considerada "jogada política" por Santiago e por motoristas e cobradores que estiveram na sede do sindicato ontem. "Injusta é a nossa situação. Estamos abandonados", disse Givaldo Rocha, 27, eletricista demitido há um mês da viação Santo Expedito, que foi à entidade retirar uma cesta básica.
Entre os diretores detidos está Francisco Xavier da Silva Filho, 27, conhecido como Chiquinho. Reportagem publicada pela Folha no dia 5 de maio revelou que o sindicalista tem na garagem um Celta e um Audi A3 1.8. Sua renda como motorista e membro do sindicato era de R$ 2.000.
Outros detidos são José Otaviano de Albuquerque, apelidado de Xerife, e Antonio Ferreira Mendes, o Toninho. Eles são acusados de receber R$ 3.000 mensais a título de "ajuda de custo" da viação Cidade Tiradentes, conforme os holerites de agosto de 2002.
A Força Sindical, entidade à qual o sindicato é filiado há dois anos, divulgou nota afirmando ser favorável à apuração das denúncias que envolvem os sindicalistas. Na semana passada, o sindicato dos motoristas e cobradores pediu a suspensão da filiação por conta das acusações.


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