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TRANSPORTE
Polícia deteve presidente e dez diretores acusados de formar quadrilha e cobrar por greves
PF prende líderes dos motoristas
Almeida Rocha/Folha Imagem
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Os sindicalistas Luiz Carlos Antonio, Edivaldo Santiago e Isao Hosogi |
SIMONE IWASSO
ALENCAR IZIDORO
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente do sindicato dos
motoristas e cobradores de ônibus de São Paulo, Edivaldo Santiago da Silva, 55, e dez diretores
da entidade foram presos ontem
pela Polícia Federal. Eles são acusados, entre outros crimes, de receber dinheiro de empresários do
setor para organizar greves.
Santiago e outros 16 diretores
do sindicato tiveram prisão temporária (por cinco dias, podendo
ser prorrogada) decretada pela
Justiça a pedido do Ministério Público Federal. Em nota, o órgão
afirmou que o objetivo é "evitar
que testemunhas sejam intimidadas, ameaçadas ou que se repitam
condutas criminosas como a deflagração de novas paralisações".
Os sindicalistas são acusados de
formação de quadrilha, desobediência a ordem judicial (por não
terem mantido parte da frota nas
ruas nas greves de 7 e 8 de abril),
paralisação de trabalho seguida
de violência, paralisação de trabalho de interesse coletivo, frustração de direitos trabalhistas e danos ao patrimônio (por supostamente depredar ônibus).
"Eles estavam previamente
ajustados com empresários para
favorecê-los em determinadas
questões. Agiram em benefício
próprio e não pensaram no coletivo", disse o promotor José Carlos
Blat, ao justificar a acusação de
formação de quadrilha.
Também foram presos dois seguranças de Santiago, funcionários de uma empresa de ônibus.
Dois dos 11 sindicalistas detidos se
apresentaram à polícia.
Seis diretores, cujos nomes a PF
não quis divulgar, ainda não foram encontrados. Caso não se entreguem em cinco dias, poderão
ter a prisão preventiva decretada
-nesse caso, por prazo maior.
Foram mobilizadas nove equipes da PF para realizar as prisões e
apreender documentos. Comprovantes de compra e venda de veículos, além de computadores, foram apreendidos nas casas dos
presos. A operação -batizada de
"Roda Livre"- coincidiu com a
extinção, determinada pela prefeitura, de 15% das linhas de ônibus da capital paulista.
Inédita no movimento sindical,
a operação foi iniciada na madrugada de ontem. Santiago foi preso
em casa e levado algemado à sede
da Polícia Federal.
Segundo o promotor, membros
do sindicato, entre eles o presidente, Edivaldo Santiago, também são suspeitos de crimes de
corrupção ativa e passiva, estelionato e até de homicídio. Empresários e funcionários da SPTrans
(empresa municipal que gerencia
o sistema) também serão investigados.
A Promotoria investiga oito assassinatos de sindicalistas ocorridos nos últimos três anos. O
DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) irá reabrir alguns processos que haviam
sido arquivados e que envolveriam membros da diretoria.
"Eles serão ouvidos, e vamos
pedir, dentro do prazo de dez
dias, a prisão preventiva de todos", disse o delegado da Polícia
Federal, Nivaldo Bernardi.
Segundo o delegado, outros 50
sindicalistas estão sendo investigados sob suspeita de participarem de formação de quadrilha e
de greves combinadas com os
empresários para forçar a prefeitura a renegociar contratos, conceder subsídios e elevar tarifas.
A operação policial foi considerada "jogada política" por Santiago e por motoristas e cobradores
que estiveram na sede do sindicato ontem. "Injusta é a nossa situação. Estamos abandonados", disse Givaldo Rocha, 27, eletricista
demitido há um mês da viação
Santo Expedito, que foi à entidade
retirar uma cesta básica.
Entre os diretores detidos está
Francisco Xavier da Silva Filho,
27, conhecido como Chiquinho.
Reportagem publicada pela Folha
no dia 5 de maio revelou que o
sindicalista tem na garagem um
Celta e um Audi A3 1.8. Sua renda
como motorista e membro do
sindicato era de R$ 2.000.
Outros detidos são José Otaviano de Albuquerque, apelidado de
Xerife, e Antonio Ferreira Mendes, o Toninho. Eles são acusados
de receber R$ 3.000 mensais a título de "ajuda de custo" da viação
Cidade Tiradentes, conforme os
holerites de agosto de 2002.
A Força Sindical, entidade à
qual o sindicato é filiado há dois
anos, divulgou nota afirmando
ser favorável à apuração das denúncias que envolvem os sindicalistas. Na semana passada, o sindicato dos motoristas e cobradores pediu a suspensão da filiação
por conta das acusações.
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