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ESTUDO
Pesquisa da Unifesp abordou casos de violência doméstica no Estado de SP
Álcool aparece em 52% das agressões
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 52% dos casos de violência
ocorridos dentro de casa, o agressor estava alcoolizado -em 6%
dos episódios, ele estava também
sob o efeito de drogas. Quatro por
cento dos autores da violência se
encontravam intoxicados por outras substâncias. E 44% não tinham bebido nem usado drogas.
A constatação de que o álcool
está presente na maioria dos casos
de violência doméstica aparece
em pesquisa divulgada ontem pelo Cebrid, Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, da Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp).
Embora os resultados obtidos
na atual pesquisa sejam semelhantes aos colhidos em estudos
internacionais, a elevada presença
do álcool "chama a atenção", diz a
psicóloga Ana Regina Noto, principal pesquisadora do estudo.
A pesquisa, primeira desse tipo
no país, ouviu moradores de
2.372 domicílios de 27 municípios
do Estado de São Paulo com mais
de 200 mil habitantes. Em cada
casa, foi sorteado um morador
entre 12 e 65 anos, ouvido sem a
presença dos outros familiares.
Em 749 das casas -ou 31,6% do
total-, as pessoas relataram situações de violência, apenas "a
ponta do iceberg", acredita a pesquisadora, pois muitos procuram
esconder tais fatos.
Os resultados permitem várias
conclusões importantes para a
conduta de políticas públicas de
saúde, observa a autora. Por
exemplo, a relação entre o álcool e
a violência precisa ser vista num
contexto de história familiar e
dentro do quadro vivido pela pessoa e pela família. Em 60% das casas onde o entrevistado relatou a
entrada de uma pessoa alcoolizada, não houve registro de violência. Essa porcentagem também
vale para outras drogas.
"É certo que o álcool e as drogas
alteram o comportamento da
pessoa, aumentam a impulsividade e diminuem a capacidade de
autoproteção da vítima", diz Ana
Noto. "Álcool e drogas aumentam as chances de a violência
ocorrer, mas nem sempre são a
causa." Esse resultado desmonta a
tese de que a droga é a única responsável pelos casos de assassinatos em família registrados nos últimos tempos. "Essa é uma visão
simplista, que leva a pensar que
todo usuário de drogas vai matar
o pai e a mãe", diz Ana Noto.
A relação entre álcool, drogas e
violência é tema frequente na área
da Justiça e da segurança pública,
mas pouco presente ainda na saúde. "Quando um dependente de
álcool chega a um serviço de saúde, perguntar a ele sobre a família
pode ser uma forma de prevenir
uma situação de violência."
Entre os casos de violência citados na pesquisa estão discussões,
agressões físicas ou ameaças, como jogar objetos e até o uso de armas. Em 13 casos envolvendo armas, 7 agressores estavam alcoolizados, 1 tinha usado cocaína e 5 não tinha usado nada.
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