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PRESÍDIOS
Participantes criticam eficácia de modelo de tratamento de condenados
Especialistas querem pena alternativa
DA REPORTAGEM LOCAL
O país precisa repensar sua política de "cimento e grade" para a
segurança pública. A expressão
dita ontem pela ex-secretária nacional de Justiça Elizabeth Sussekind, que já esteve à frente da política prisional brasileira, resume o
tom de críticas durante o seminário realizado em São Paulo pelo
Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial sobre prisões.
Para os participantes, não
adianta continuar construindo
presídios. No ano passado, o número de presos chegou a 240 mil e
o déficit de vagas em torno de 58
mil. Em sete anos, a população
carcerária cresceu 61% -91,3 mil.
A análise da situação em São
Paulo, onde está a maior quantidade de condenados, monopolizou a discussão. Se a sua população presa continuar crescendo no
ritmo deste ano, com 1.800 novos
detentos a mais por mês, o Estado
deverá atingir a marca de 180 mil
encarcerados, segundo o secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa. "Temos
de pensar em outros meios de punição que não seja a privação de
liberdade", afirmou.
A estimativa aponta para uma
explosão de gastos. Levando-se
em conta que cada preso custa R$
677 por mês, a secretaria avalia
que, se confirmado o aumento do
número de presos, irá precisar de
R$ 1,4 bilhão por ano, ou "um terço da capacidade de investimentos do tesouro do Estado", disse.
Segundo Sussekind, as prisões
brasileiras, hoje, não realizam
suas funções: não recuperam e
não reduzem a violência. "O máximo que acontece é afastar o preso da comunidade, não da criminalidade", afirmou, ao falar dos
presos ligados a organizações criminosas, que, mesmo na cadeia,
continuam dando ordens.
A pena alternativa foi uma das
medidas defendidas como possível saída, além da reformulação
da lei sobre a progressão de regime. Para os especialistas, é preciso
separar o modo de tratamento
dos líderes de facções dos demais
presos, principalmente os condenados por crimes menos graves.
A socióloga Julita Lemgruber,
diretora do Centro de Estudos de
Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, do Rio,
citando estudos americanos, disse
que altas taxas de encarceramento não reduzem a violência na
mesma proporção. Entre 91 e 98,
enquanto o Texas aumentou sua
taxa em 144%, conseguindo reduzir seus índices criminais em 35%,
Nova York teve efeito maior (43%
menos crimes) com menor encarceramento (mais 24%).
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