São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004

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OPERAÇÃO VAMPIRO

Grupo manipulava compra de medicamentos; entre os 14 presos, 6 são servidores do Ministério da Saúde

PF prende suspeitos de fraude de R$ 2 bi

Alan Marques/Folha Imagem
Policiais federais recolhem, em Brasília, documentos e computadores encontrados no quarto andar do anexo do Ministério da Saúde


ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal prendeu ontem, em quatro capitais, integrantes de uma suposta quadrilha que, atuando no Ministério da Saúde, teria causado um prejuízo de R$ 2 bilhões aos cofres públicos desde 1990 manipulando licitações destinadas à compra de hemoderivados -proteínas extraídas do sangue, utilizadas para o tratamento de diversas doenças, como hemofilia, Aids e câncer.
Foram expedidos 17 mandados de prisão. Dos 14 integrantes da suposta quadrilha presos até o final da tarde de ontem, 6 trabalhavam no ministério. Entre eles está Luiz Cláudio Gomes da Silva, coordenador-geral de Recursos Logísticos da pasta, nomeado para o cargo em agosto do ano passado pelo ministro da Saúde, Humberto Costa.
Exonerado, Silva integrou a equipe de Costa quando este era secretário da Saúde de Recife. Os demais servidores presos, na chamada Operação Vampiro, assessoravam o ex-coordenador ou já haviam sido integrantes da comissão de licitação da Saúde.
O ministério afastou outros dois funcionários e abriu processo administrativo contra outro. Não há mandado de prisão para eles.
As investigações tomaram fôlego a partir do depoimento de Elias Espiridião Abboadalla, representante da empresa Baxter Hospitalar Ltda., ao Ministério Público Federal.
Abboadalla, também preso ontem em São Paulo, confirmou o vazamento de informações em concorrência para a compra do hemoderivado fator 8, iniciada em outubro de 2002.
A licitação foi suspensa pela Justiça depois de constatada violação de envelopes, via laudo da Polícia Federal, e suspeita de formação de cartel -os preços de todos os concorrentes foram reduzidos em 42% em relação aos anteriores.
Após examinar documentos da concorrência, o Ministério Público Federal recomendou sua anulação, e o governo passou a realizar pregões para as compras.
Por meio de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, os procuradores acompanharam a movimentação posterior do grupo e verificaram que o esquema ainda vigorava e atingira também diversas outras licitações, de Estados, municípios, autarquias hospitalares, isso para compras de outros tipos de hemoderivados que não são centralizadas pelo ministério.
Em entrevista coletiva concedida ontem, o ministro interino da Saúde, Gastão Wagner Campos, disse que apesar de a pasta ter tomado medidas para conter as irregularidades, houve novas denúncias anônimas sobre os processos de compra -todos de caráter internacional, já que o Brasil não produz as drogas.
"Tivemos uma surpresa desagradável", afirmou Campos.
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, participou da entrevista. "Falei com o Humberto [Costa, ministro da Saúde, que estava em Genebra] agora mesmo. Ele se encontra indignado."
Entre os três foragidos está o empresário Lourenço Peixoto. Vice-presidente do "Jornal de Brasília", é apontado na investigação da Polícia Federal como intermediário de interesses de laboratórios internacionais.
Oriundo de Pernambuco, na gestão do ex-presidente Fernando Collor, Peixoto foi assessor da presidência da extinta Central de Medicamentos, o órgão que centralizava as compras do Ministério da Saúde. Por conta de supostas irregularidades cometidas em sua atuação funcional, chegou a ser denunciado à Justiça -juntamente com outros integrantes do chamado esquema PC, relacionado a negócios fraudulentos capitaneados pelo empresário Paulo César Farias, morto em 1996.
A PF apreendeu ainda documentos que pertenceriam ao consultor Francisco Danúbio Honorato, que chegou detido à Superintendência da PF no Distrito Federal às 9h15. Com ele foram trazidas uma mala de viagem e um Mercedes modelo E-320. Na mala havia aproximadamente R$ 500 mil e US$ 100 mil.
No Rio, a PF prendeu o empresário Armando Garcia Coelho e cumpriu mandados de busca na sede e numa filial da casa de câmbio Dunes Non Stop-Câmbio e Turismo - onde foram apreendidos US$ 15.062 em dinheiro, US$ 21.926 em cheques de viagem e R$ 168.357.
Segundo a PF, a casa de câmbio era usada pelos envolvidos nas fraudes de licitações.

Colaborou a Sucursal do Rio


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