São Paulo, sexta-feira, 20 de maio de 2011

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"O que é meu, ninguém toma", afirmava estudante

LAURA CAPRIGLIONE
DE SÃO PAULO

Primeiro integrante da família a entrar na Universidade de São Paulo, e bem na prestigiosa Faculdade de Economia e Administração (FEA), o jovem Felipe Ramos de Paiva, 24, gostava de dizer para os colegas do curso noturno de ciências atuariais, no qual cursava o 5º ano, que tinha uma meta: conseguir o primeiro milhão de dólares antes dos 30 anos.
Foco, disciplina e dedicação eram marcas de Felipe. "Ele não era de baladas ou festas. Era do trabalho para a faculdade e, de lá, para casa", lembra o colega Rodrigo de Oliveira Rodrigues.
"Felipe estudava e trabalhava todo o tempo", afirma o pai, Ocimar Florentino de Paiva, projetista e desenhista de nível médio.
Um vizinho do bairro de Pirituba (zona norte paulistana), onde Felipe cresceu, ao lado da irmã, Amanda, lembra que o menino sempre estudou em escolas particulares, mesmo que à custa do sacrifício da família evangélica. "Eles cultivavam uma modéstia muito grande, porque tinham como prioridade a educação dos filhos."
A FEA era o sonho de Felipe. O pai até tentou dissuadi-lo: "Ali é um lugar em que só rico entra". Felipe ignorou o conselho e foi reprovado no primeiro vestibular que prestou. Insistiu e passou.
"Fechadão, sério, marrudo", conforme definição do tio Flavio Ramos, a primeira namorada Felipe só conquistou aos 19 anos. Primeira e única, Maiara Marins Lopes, 24, também estudante da USP, dizia ontem, no velório, que os anos que os dois passaram juntos foram os "mais felizes" de sua vida.
Desde 2008, o estudante trabalhava na consultoria de investimentos Capitânia. Segundo colegas, ia muito bem na empresa, já representando-a em viagens pelo país.
O sucesso animou o jovem, conhecido por seu comportamento controlado com o dinheiro, a presentear a mãe, Zelia Ramos Macedo de Paiva, com uma passagem de avião para o Rio -ela nunca havia feito uma viagem aérea antes disso. Foi seu presente de Dia das Mães.
Há seis meses, Felipe fez outro investimento: comprou o Passat 1998, blindado, ao lado do qual seu corpo morto foi encontrado anteontem à noite.
Antes disso, o jovem só andava de ônibus.
Escolheu o carro blindado, segundo o pai, porque já havia sido assaltado outras duas vezes -numa delas, tentaram levar a sua mochila; Felipe acabou por jogar o bandido para fora do ônibus em que estava.
"Ele era um sujeito muito calmo e amoroso, mas costumava dizer que aquilo que era dele, fruto do trabalho dele, ninguém ia levar", lembrou o tio Oswaldo.
No início do ano, o pai pediu ao filho que se cuidasse na USP, por causa dos sequestros que estavam ocorrendo no campus. O filho respondeu-lhe que era por isso que tinha um carro blindado. "Mas você não é", disse o pai.


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